quinta-feira, 4 de setembro de 2014

O homem é um ser produtor de cultura?

Uma Antropologia da Cultura* III: Cultura: a criação humana

O Homem se caracteriza a partir de diferentes e diversas dimensões, mas não se limita a eles Uma dessas dimensões, talvez uma das mais amplas e complexas para o entendimento seja a cultura. Vamos, portanto discutir essa o dimensão ou característica que expressa o sentido da produção humana.
O Homem não se limita ao mundo natural; ele o transcende e o transforma. Transcende porque tem expectativas que não se limitam ao mundo como ele se apresenta e nem à sua materialidade. Transforma porque o recria constantemente, imprimindo sua marca: a marca da cultura. Em razão disso é que dizemos que o Homem se humaniza produzindo seu mundo, gerando sua marca cultural ou as diferentes manifestações culturais. Ou seja, diferentemente de outros seres, o humano se autoproduz reproduzindo o meio que o circunda; recria o mundo natural e o já criado, criando novo significado e novas formas de aproveitamento das realidades já existentes.
Esse processo de refazer e ressignificar é um dos traços culturais. A cultura é um dos traços definidores do Homem, ao ponto de se poder dizer, como num trocadilho, que “por natureza o homem é um ser cultural” (RABUSKE, 1999, p. 56). Isso mostrar que embora haja diferença entre o que é natural e o cultural que o cultural por ser tão próximo lhe é quase essencial. Com a ressalva de que é natural, ao ser humano, produzir cultura. Por isso:
“Convém não atribuir à natureza o que diz respeito à cultura; ou seja, não considerar como universal o que é relativo. Essa compreensão da irredutível diversidade das culturas – que é o eixo central da antropologia cultural – aparece ao mesmo tempo: 1) ao nível dos traços singulares dos comportamentos 2) ao nível da totalidade da nossa personalidade cultural”. (LAPLANTINE, 2000, p. 123)

O homem é um ser cultural, mas a cultura não é tudo no ser humano. A cultura, essa capacidade re-criadora, permite ao Homem re-produzir o mundo dinamizando a existência dos existentes. O fato de estar sempre criando ou re-criando sua obra ou suas manifestações faz da cultura uma das marcas mais tipicamente humanas, pois é principalmente pela sua capacidade de recriar o mundo e as manifestações culturais que o homem se diferencia dos demais existentes: por ser cultural deixa de ser apenas homo para ser sapiens. Assim o “homo sapiens” se manifesta com outras habilidades e passa a ser “homo culturalis”. E a capacidade de criar e recriar, fazer e refazer lhe permite ser chamado de “homo faber” (MONDIN, 1982), pois entre outras a capacidade de produzir cultura possibilita a recriação. O Homem que se entende como sabedor de si ou consciente (por isso sapiens), produz o mundo (por isso é faber) circundante e aquilo de que tem necessidade para melhor se situar nesse mundo. A consciência de sua capacidade produtiva e criadora, juntamente com sua criação é o que determina sua dimensão cultural (por isso culturalis).

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