A época do trovadorismo compreende desde o início da Língua portuguesa (português arcaico), provavelmente entre 1189 e 1418. O trovadorismo abrange a idade Média, o feudalismo (já em fase de decadência) e o teocentrismo (Deus é o centro do Universo). Portugal encontrava-se ocupado com as Cruzadas, quando deram seu fim as manifestações culturais iniciaram-se, surgindo assim o trovadorismo.
O principal autor do trovadorismo foi o Rei D. Dinis que viveu de 1261 a 1325, sendo que os escritores eram denominados “trovadores”, que escreviam suas poesias e depois a cantavam com ajuda de alguns instrumentos musicais (viola, lira ou harpa).
Esse tipo de literatura era dividido em dois tipos: o refrão (havia um estribilho o qual se repetia a cada final de estrofe) e mestria (poesia mais trabalhada sem uso de repetições).
Os principais temas abordados eram:
* Poesia Lírica
- O amor do homem para a mulher (eu lírico masculino), denominada cantiga de amor;
- O amor do homem para a mulher (eu lírico masculino), denominada cantiga de amor;
- O amor da mulher para o homem (eu lírico feminino), denominada cantiga de amigo.
* Poesia Satírica
- Criticas indiretas aos cidadãos, denominada cantigas de escárnio;
- Criticas indiretas aos cidadãos, denominada cantigas de escárnio;
As principais obras (antologias manuscritas) são:
- Cancioneiro da Ajuda;
- Cancioneiro da Vaticana;
- Cancioneiro da Biblioteca Nacional.
- Cancioneiro da Ajuda;
- Cancioneiro da Vaticana;
- Cancioneiro da Biblioteca Nacional.
Trovadorismo (1189/1198)
INÍCIO: Canção da Ribeirinha - Paio Soares de TaveirósTÉRMINO: Fernão Lopes é eleito cronista-mor da torre do Tombo
Painel de Época
· Cristianismo
· Cruzadas rumo ao Oriente
· Luta contra os mouros
· Teocentrismo: poder espiritual e cultural da Igreja
· Feudalismo
· Monopólio clerical
·
Cantigas Líricas
Cantigas Líricas
Cantigas de Amor
· Amor do trovador pela mulher amada.
· Mulher idealizada.
· Contemplação platônica.
· Uso de “meu senhor”.
· Sofrimento por amor.
· Vassalagem amorosa.
· Amor cortês.
· Estribilho ou refrão.
Quer’eu em maneira de proença!
fazer agora um cantar d’amor
e querrei muit’i loar lmia senhor
a que prez nem fremosura nom fal,
nem bondade; e mais vos direi ém:
tanto a fez Deus comprida de bem
que mais que todas las do mundo val.
Ca mia senhor quizo Deus fazer tal,
quando a faz, que a fez sabedord
e todo bem e de mui gram valor,
e com tod’est[o] é mui comunal
ali u deve; er deu-lhi bom sém,
e desi nom lhi fez pouco de bem
quando nom quis lh’outra
foss’igual
Ca mia senhor nunca Deus pôs mal,
mais pôs i prez e beldad’e loor
e falar mui bem, e riir melhor
que outra molher; desi é leal
muit’, e por esto nom sei oj’eu quem
possa compridamente no seu bem
falar, ca nom á, tra-lo seu bem, al.
fazer agora um cantar d’amor
e querrei muit’i loar lmia senhor
a que prez nem fremosura nom fal,
nem bondade; e mais vos direi ém:
tanto a fez Deus comprida de bem
que mais que todas las do mundo val.
Ca mia senhor quizo Deus fazer tal,
quando a faz, que a fez sabedord
e todo bem e de mui gram valor,
e com tod’est[o] é mui comunal
ali u deve; er deu-lhi bom sém,
e desi nom lhi fez pouco de bem
quando nom quis lh’outra
foss’igual
Ca mia senhor nunca Deus pôs mal,
mais pôs i prez e beldad’e loor
e falar mui bem, e riir melhor
que outra molher; desi é leal
muit’, e por esto nom sei oj’eu quem
possa compridamente no seu bem
falar, ca nom á, tra-lo seu bem, al.
(D. Dinis )
Tradução
Quero à moda provençal
fazer agora um cantar de amor,
e quererei muito aí louvar minha senhora
a quem honra nem formosura não faltam
nem bondade; e mais vos direi sobre ela:
Deus a fez tão cheia de qualidades
que ela mais que todas do mundo.
Pois Deus quis fazer minha senhora de tal modo
quando a fez, que a fez conhecedora de
todo bem e de muito grande valor,
e além de tudo isto é muito sociável
quando deve; também deu-lhe bom senso,
e desde então lhe fez pouco bem
impedindo que nenhuma outra fosse igual a ela
Porque em minha senhora nunca Deus pôs mal,
mas pôs nela honra e beleza e mérito
e capacidade de falar bem, e de rir melhor
que outra mulher também é muito leal
e por isto não sei hoje quem
possa cabalmente falar no seu próprio bem
pois não há outro bem, para além do seu
fazer agora um cantar de amor,
e quererei muito aí louvar minha senhora
a quem honra nem formosura não faltam
nem bondade; e mais vos direi sobre ela:
Deus a fez tão cheia de qualidades
que ela mais que todas do mundo.
Pois Deus quis fazer minha senhora de tal modo
quando a fez, que a fez conhecedora de
todo bem e de muito grande valor,
e além de tudo isto é muito sociável
quando deve; também deu-lhe bom senso,
e desde então lhe fez pouco bem
impedindo que nenhuma outra fosse igual a ela
Porque em minha senhora nunca Deus pôs mal,
mas pôs nela honra e beleza e mérito
e capacidade de falar bem, e de rir melhor
que outra mulher também é muito leal
e por isto não sei hoje quem
possa cabalmente falar no seu próprio bem
pois não há outro bem, para além do seu
.
Explicação
Voz lírica masculina: “Pois Deus quis fazer minha senhora de tal modo”
Tratamento dando à mulher: mia senhor.
Idealização da mulher: “a quem honra nem formosura não faltam ”
Submissão excessiva amorosa
No texto, temos um típico exemplo do amor cortês, com o trovador confessando o seu amor pela mulher, assumindo-a como superior a ele.
Cantigas Satíricas
Cantigas de Escárnio
· Referências indiretas
· Ironia
· Ambigüidade (vocabulário de duplo sentido)
· Não se revela o nome da pessoa satirizada
Ai, dona fea, fostes-vos queixar
que vos nunca louv[o] em meu cantar;
mais ora quero fazer um cantar
em que vos loarei toda via;
e vedes como vos quero loar:
dona fea, velha e sandia!
Dona fea, se Deus mi pardom,
pois avedes [a]tam gram coraçom
que vos eu loe, em esta razom
vos quero ja loar toda via;
e vedes qual sera a loaçom:
dona fea, velha e sandia!
Dona fea, nunca vos eu loei
em meu trobar, pero muito trobei;
mais ora ja um bom cantrar farei,
em que vos loarei toda via;
e direi-vos como vos loarei:
dona fea, velha e sandia!
que vos nunca louv[o] em meu cantar;
mais ora quero fazer um cantar
em que vos loarei toda via;
e vedes como vos quero loar:
dona fea, velha e sandia!
Dona fea, se Deus mi pardom,
pois avedes [a]tam gram coraçom
que vos eu loe, em esta razom
vos quero ja loar toda via;
e vedes qual sera a loaçom:
dona fea, velha e sandia!
Dona fea, nunca vos eu loei
em meu trobar, pero muito trobei;
mais ora ja um bom cantrar farei,
em que vos loarei toda via;
e direi-vos como vos loarei:
dona fea, velha e sandia!
(Joan Garcia de Guilhade )
Tradução
Ai, dona feia, foste-vos queixar
que nunca vos louvo em meu cantar;
mas agora quero fazer um cantar
em que vos louvares de qualquer modo;
e vede como quero vos louvar
dona feia, velha e maluca!
Dona feia, que Deus me perdoe,
pois tendes tão grande desejo
de que eu vos louve, por este motivo
quero vos louvar já de qualquer modo;
e vede qual será a louvação:
dona feia, velha e maluca!
Dona feia, eu nunca vos louvei
em meu trovar, embora tenha trovado muito;
mas agora já farei um bom cantar;
em que vos louvarei de qualquer modo;
e vos direi como vos louvarei:
dona feia, velha e maluca!
que nunca vos louvo em meu cantar;
mas agora quero fazer um cantar
em que vos louvares de qualquer modo;
e vede como quero vos louvar
dona feia, velha e maluca!
Dona feia, que Deus me perdoe,
pois tendes tão grande desejo
de que eu vos louve, por este motivo
quero vos louvar já de qualquer modo;
e vede qual será a louvação:
dona feia, velha e maluca!
Dona feia, eu nunca vos louvei
em meu trovar, embora tenha trovado muito;
mas agora já farei um bom cantar;
em que vos louvarei de qualquer modo;
e vos direi como vos louvarei:
dona feia, velha e maluca!
Explicação
Indiretas: “Ai dona fea! foste-vos queixar”
Uso da ironia e do equívoco: “mais ora quero fazer um cantar em que vos loarei toda via;”
No escárnio anterior, o autor promete falar em sua poesia de uma mulher que reclamou dele por nunca tê-la citado ou elogiado numa de suas cantigas. Mas, visivelmente irritado com isso, ele a chama de feia, velha e louca.
Cantigas de Maldizer
· Sátira direta.
· Maledicência.
· Uso de palavras obscenas ou de conteúdo erótico.
· Citação nominal da pessoa satirizada.
Marinha, o teu folgar
tenho eu por desacertado,
e ando maravilhado
de te não ver rebentar;
pois tapo com esta minha
boca, a tua boca, Marinha;
e com este nariz meu,
tapo eu, Marinha, o teu;
com as mãos tapo as orelhas,
os olhos e as sobrancelhas,
tapo-te ao primeiro sono;
com a minha piça o teu cono;
e como o não faz nenhum,
com os colhões te tapo o cu.
E não rebentas, Marinha?
tenho eu por desacertado,
e ando maravilhado
de te não ver rebentar;
pois tapo com esta minha
boca, a tua boca, Marinha;
e com este nariz meu,
tapo eu, Marinha, o teu;
com as mãos tapo as orelhas,
os olhos e as sobrancelhas,
tapo-te ao primeiro sono;
com a minha piça o teu cono;
e como o não faz nenhum,
com os colhões te tapo o cu.
E não rebentas, Marinha?
(Afonso Eanes de Coton)
Explicação
Diretas, sem equívocos: “ Marinha, o teu folgar”
Intenção difamatória: “E não rebentas, Marinha?”
Palavrões e xingamentos: “com os colhões te tapo o cu”
Texto Desenvolvido por
O Trovadorismo (1189 ou 1198 a 1434)
Datas
1189 ou 1198: “Cantiga da Ribeirinha” ou “Cantiga da Guarvaia”, de Paio Soares Taveirós - início do Trovadorismo, primeiro movimento literário português.
1434: nomeação de Fernão Lopes, pelo rei D. Duarte de Avis, para o cargo de “Cronista-Mor do Reino” - início do Humanismo em Portugal.
Contexto histórico
Portugal é reconhecido como reino independente em 1143. Quinze anos antes, o Conde Afonso Henriques de Borgonha já havia sido sagrado rei, depois da batalha de S. Mamede, em que lutou pela liberdade do Condado Portucalense e da qual saiu vitorioso. Iniciava-se aí a primeira dinastia portuguesa: a Dinastia de Borgonha.
Essa dinastia tinha origens no sul da França, em Provença, o que explica a grande influência provençal durante a primeira fase da Era Medieval em Portugal. Assim, os costumes e a cultura dessa apresentaram fortes traços provençais, enquanto a estrutura socioeconômica era marcada pelo feudalismo.
Características gerais do Trovadorismo
O Trovadorismo desenvolveu-se num período em que a cultura era monopolizada pelo clero católico, detentor máximo do poder político e econômico.
Assim, é natural que a visão de mundo da época fosse marcada pelo teocentrismo — escala de valores determinada a partir dos próprios valores impostos pela religiosidade. Por essa razão, o homem dessa fase medieval privilegiava os bens do espírito, da alma, da vida pós-morte, em detrimento do corpo e da vida carnal, terrena.
Nas artes, houve destaque para o desenvolvimento da música e arquitetura, pois elas serviam ao propósito religioso daquele tempo: a música religiosa podia criar uma atmosfera extraterrena, envolvendo o fiel, e a arquitetura era empregada na construção de catedrais.
Na literatura houve maior desenvolvimento da poesia do que da prosa, pois a poesia apoiava-se na música e isso facilitava sua transmissão oral.
Principais manifestações literárias
A principal manifestação literária do Trovadorismo foi a poesia, representada pelas cantigas, que eram composições feitas para serem cantadas ou acompanhadas por instrumento musical.
As cantigas medievais portuguesas eram expressas na chamada “medida velha”, as redondilhas, versos de 5 ou 7 sílabas, de tradição medieval. O idioma empregado era o galaico-português, comum à Galícia e a Portugal. O poeta chamava-se trovador e as cantigas podiam ser líricas ou satíricas. Elas encontram-se reunidas em volumes denominados cancioneiros, dos quais se destacam o Cancioneiro da Ajuda, o Cancioneiro da Vaticana e o Cancioneiro da Biblioteca Nacional de Lisboa.
A prosa medieval apresentou caráter predominantemente documental, o que diminuiu seu valor literário. Apenas um gênero se destacou: as Novelas de Cavalaria, que eram narrativas de feitos heróicos e guerreiros, originadas nas antigas canções de gesta. Em Portugal, apenas as novelas do Ciclo Bretão ou Arturiano, sobre o rei Artur e os cavaleiros da Távola Redonda, deixaram marcas.
Projeções do Trovadorismo
O Trovadorismo constituiu a formação da base lírica da literatura em língua portuguesa, com sugestões formais e temáticas; ainda hoje se observa a influência das redondilhas em manifestações poéticas e musicais de cunho popular e folclórico, tanto em Portugal como no Brasil. Além disso, a literatura trovadoresca exerceu forte influência na obra de vários autores da língua, como Almeida Garrett, Gonçalves Dias, Olavo Bilac, Manuel Bandeira, Cecília Meireles e outros.
Fonte: www.10emtudo.com.br
Panorama histórico
Trovadorismo foi a primeira escola literária portuguesa. Esse movimento literário compreende o período que vai, aproximadamente do século XII ao século XIV.
A partir desse século, Portugal começava a afirmar-se como reino independente, embora ainda mantivesse laços econômicos, sociais e culturais com o restante da Penínsua Ibérica. Desses laços surgiu, próximo à Galícia (região ao norte do rio Douro), uma língua particular, de traços próprios, chamada galego-português. A produção literária dessa época foi feita nesta variação linguística.
A cultura trovadoresca refletia bem opanorama histórico desse período: as Cruzadas, a luta contra os mouros, o feudalismo, o poder espiritual do clero.
O período histórico em que surgiu o Trovadorismo foi marcado por um sistema econômico e político chamado Feudalismo, que consistia numa hierarquia rígida entre senhores: um deles, o suserano, fazia a concessão de uma terra (feudo) a outro indivíduo, o vassalo. O suserano, no regime feudal, prometia proteção ao vassalo como recompensa por certos serviços prestados.
Essa relação de dependência entre suserano e vassalo era chamada de vassalagem.
Assim, o senhor feudal ou suserano era quem detianha o poder, fazendo a concessão de uma porção de terra a um vassalo, encarregado de cultivá-la.
Além da nobreza (classe que pertenciam os suseranos) e a classe dos vassalos ou servos, havia ainda uma outra classe social: o clero. Nessa época, o poder da Igreja era bastante forte, visto que o clero possuía grandes extensões de terras, além de dedicar-se também à política.
Os conventos eram verdadeiros centros difusores da cultura medieval, pois era neles que se escolhiam os textos filosóficos a serem divulgados, em função da moral cristã.
A religiosidade foi um aspecto marcante da cultura medieval portuguesa. A vida do povo lusitano estava voltada para os valores espirituais e a salvação da alma. Nessa época, eram frequentes as procissões, além das próprias Cruzadas - expedições realizadas durante a Idade Média, que tinham como principal objetivo a libertação dos lugares santos, situados na Palestina e venerados pelos cristãos. Essa época foi caracterizada por uma visão teocêntrica (Deus como o centro do Universo). Até mesmo as artes tiveram como tema motivos religiosos. Tanto a pintura quanto a escultura procuravam retratar cenas da vida de santos ou episódios bíblicos.
Quanto à arquitetura, o estilo gótico é o que predominava, através da construção de catedrais enormes e imponentes, projetadas para o alto, à semelhança de mãos em prece etntanto tocar o céu.
Na literatura, desenvolveu-se em Portugal um movimento poético chamado Trovadorismo. Os poemas produzidos nessa época eram feitos para serem cantados por poetas e músicos. (Trovadores - poetas que compunham a letra e a música de canções. Em geral uma pessoa culta - Menestréis - músicos-poetas sedentários; viviam na casa de um fidalgo, enquanto o jogral andava de terra em terra - , Jograis - cantores e tangedores ambulantes, geralmente de origem plebéia - e Segréis - trovadores profissionais, fidalgos desqualificados que iam de corte em corte, acompanhados por um jogral) Recebiam o nome de cantigas, porque eram acompanhados por instrumentos de corda e sopro. Mais tarde, essas cantigas foram reunidas em Cancioneiros: o da Ajuda, o da Biblioteca Nacional e o da Vaticana.
A produção artística vai estar impregnada, neste período, do espírito teocêntrico. As artes decorativas predominam, sempre deformando os elementos objetivos do mundo ou procurando simbolizar o universo espiritual e sobrenatural através do qual o homem interpreta sua realidade. O estilo gótico, com suas formas alongadas, ogivais e pontiagudas, parece expressar forte desejo humano de ascender a uma nova e eterna vida. A literatura, geralmente escrita em latim, não ultrapassa os limites religiosos em sua temática: a vida dos santos, a liturgia dos rituais cristãos. Mas em torno dos castelos feudais desenvolve-se também uma arte leiga que, mesmo, às vezes, chegando ao profano, redimensiona a visão de mundo medieval e aponta novos caminhos. É a arte dos trovadores e suas cantigas, das novelas de cavalaria.
Em Portugal floresceram cantigas de tipos diversos quanto à temática:
Em Portugal floresceram cantigas de tipos diversos quanto à temática:
Cantigas de Amigo
Nasceram no território português e constituem um vivo retrato da vida campestre e do cotidiano das aldeias medievais na região. Embora compostas por homens, procuram expressar o sentimento feminino através d pequenos dramas e situações da vida amorosa das donzelas, geralmente, as saudades do namorado que foi combater contra os mouros, a vigilância materna, as confissões às amigas. Há nessas cantigas uma forte presença da natureza, sua linguagem é simples e sua estrutura apropriada ao canto e à transnissão oral apresenta refrão e versos encadeados e repetidos ou ligeiramente modificados (paralelismo).
Cantigas de Amor
Surgiram no sul da França, na região de Provença. Expressam o sentimento amoroso do trovador que se coloca a serviço da mulher amada. Aqui, o amor se torna tema central do texto poético, deixando de ser pretexto para a discussão de outros temas. Mas é um amor não realizado, não correspondido, que fica sempre num plano idealizado. E de outro modo não poderia ser, pois a mulher amada se encontra socialmente afastada do poeta: é a senhora, esposa do senhor feudal. São cantigas que espelham a vida na corte através de forte abstração e linguagem refinada.
Cantigas de escárnio e de maldizer
Reúnem a produção satírica e maliciosa da época. Enquanto as de escárnio são críticas e suas ironias feitas de modo indireto, as de maldizer, utilizando linguagem mais vulgar, às vezes obscena, referem-se direta e nominalmente a suas personagens. Os temas centrais destas cantigas são as disputas políticas, as questões e ironias que os trovadores se lançam mutuamente e que nos lembram os "desafios" de nossa literatura de cordel, as intimidades de alcova, a covardia ou a falta de jeito de alguns cavaleiros, as mulheres feias. É verdade que seu valor poético é pequeno, mas seu aspecto documental torna imprescindível seu estudo.
As novelas de cavalaria
Surgiram na França e na Inglaterra derivadas das canções de gesta e de poemas épicos medievais. Refletiam, de modo geral, os ideais da nobreza feudal: o espírito cavalheiresco, a fidelidade, a coragem, o amor servil. Mas estavam também impregnadas de elementos da mitologia céltica. As histórias mais conhecidas são aquelas que pertencem ao "ciclo arturiano", A Demanda do Santo Graal é uma das mais importantes deste ciclo, a qual reúne os dois elementos fundamentais da Idade Média quando coloca a Cavalaria a serviço da Religiosidade. Além das novelas do ciclo arturiano merecem destaque também "José de Arimatéia" e "Amadis de Gaula".
"Estes meus olhos nunca perderán,
senhor, gran coita, mentr'eu vivo fôr;
e dire-vos fremosa mia senhor,
destes meus olhos a coita que han:
choran e cegan, quand' alguen non veen,
e ora cegan por alguén que veen.
senhor, gran coita, mentr'eu vivo fôr;
e dire-vos fremosa mia senhor,
destes meus olhos a coita que han:
choran e cegan, quand' alguen non veen,
e ora cegan por alguén que veen.
Grisado teen de nunca perder
meus olhos coita e meu coraçon,
e estas coitas, senhor, mias son:
mais los meus olhos, por alguen verr,
choran e cegan, quan' alguen non veen,
e ora cegan por alguen que veen.
meus olhos coita e meu coraçon,
e estas coitas, senhor, mias son:
mais los meus olhos, por alguen verr,
choran e cegan, quan' alguen non veen,
e ora cegan por alguen que veen.
E nunca já poderei haver ben
pois que amor já non quer nen quer Deus;
mais os cativos destes olhos meus
morrerán sempre por veer alguen:
choran e cegan, quand' alguen non veen,
e ora cegan por alguen que veen."(João Garcia de Guilhade)
pois que amor já non quer nen quer Deus;
mais os cativos destes olhos meus
morrerán sempre por veer alguen:
choran e cegan, quand' alguen non veen,
e ora cegan por alguen que veen."(João Garcia de Guilhade)
Uma família nobre medieval (Século XIV)
Fonte: www.geocities.com
O ano de 1189 ou 1198 é o marco inicial do Trovadorismo em Portugal, por ser, uma delas, a data presumível da publicação da canção
A Ribeirinha ou Cantiga de Guarvaia ( Cantiga de Amor ), de Paio Soares de Taveirós, que transcreveremos abaixo:
"No mundo non me sei parelha,
mentre me for como me vai,
ca já moiro por vós - e ai!
mia senhor branca e vermelha,
queredes que vos retraia
quando vos eu en saia!
Mau dia me levantei,
que vos enton non vi fea!
E, mia senhor, dês aquel dia, ai!
me foi a mi mui mal,
e vós, filha de do Paai
Moniz, e ben vos semelha
d'haver eu por vós guarvaia,
pois eu, mia senhor, d'alfaia
nunca de vós houve nen hei
valia d'ua correa. "
O ano de 1418 é o ano que Fernão Lopes, funcionário da Coroa, foi nomeado Guarda- Mor da Torre do Tombo, função que seria hoje equivalente à chefia dos arquivos oficiais. Esse fato define, ao menos oficialmente, o fim do Trovadorismo, tendo em vista que Fernão Lopes viria a ser protagonista de um novo comportamento literário em Portugal, conforme veremos à frente.
CONTEXTO HISTÓRICO
O trovadorismo português é, de certa forma, resultado da influência da cultura provençal. A Provença, região Sul da França atual, por razões históricas e geográficas, já desenvolvera condições para uma arte definida e forte.
Esta influência pode ser percebida na cantiga a seguir:
" Que eu en maneyra de proençal ( 1 )
fazer agora um cantar d'amor
e querrey muyt'i loar unha senhor,
a que prez nem fremosura non fal, (...) "
Vocabulário: 1. à maneira provençal
Entretanto, além da Cantiga de Amor, outros tipos de cantiga se desenvolveram já com conotações mais ibéricas, seja no vocabulário, seja no vocabulário, seja nos recursos estruturais e mesmo nas referências culturais. Salientamos, a bem da verdade, que algumas dessas modalidades tiveram origem na própria Cantiga de AMor, ou em alguma outra modalidade também provençal.
A influência provençal se deu na região ibérica em função da própria divulgação da literatura da Provença por quase toda a Europa. A vinda de cavaleiros provençais à região da península, a fim de ajudarem os reis locais nas lutas de expulsão dos árabes dos antigos territórios católicos, foi um veículo de introdução da cultura provençal na Península. Cite-se, inclusive m a presença de D.Henrique, futuro fundador do estado português, a partir do condado portucalense, e rei da primeira dinastia ( Borgonha) lusitana. Na prosa medieval portuguesa, outras influências são notadas, como a greco-latina, a francesa e a inglesa.
O período mais fértil do Trovadorismo português ocorreu, mais ou menos, do século XIII ao início do XVI e sua decadência foi vivida a partir de meados deste último século.
A literatura portuguesa dos primeiros séculos desse período não se diferencia da literatura praticada nas demais regiões da Península Ibérica, até por falta de maior identidade cultural nos espaço português, ocorrendo, inclusive, manifestações literárias em mais de uma língua, além da portuguesa.
Traços Característicos
A poesia do Trovadorismo tem íntima ligação com a música, pois era composta para ser entoada ou cantada e acompanhada de instrumental, como o alaúde, a viola, a flauta, ou mesmo de coro. Então, hoje, classificadas sob os nomes de Amor, Amigo, Escárnio e Maldizer, considerando as diferenças entre elas.
Cantiga de Amor
Este tipo de cantiga tematiza a confissão amorosa do homem em relação a uma mulher geralmente lamentando o seu sofrimento de amor ( coita) diante da indiferença da mesma. Sendo o homem quem fala, costumamos dizer que se trata de um "eu-lírico"masculino.
O amante posiciona-se inferiormente à mulher, divinizando-a, a ponto de se estabelecer uma relação de "senhor"para vassalo. Ela é o seu "senhor"( não existia a palavra "senhora"), dona do destino do apaixonado, o qual busca um a linguagem e atitudes cuidadosas para não ofendê-la, inclusive, omitindo, o nome da amada. Esse comportamento e essa relação caracterizam o amor cortês, em que a mulher é sempre vista como merecedora de todas as atenções, gentilezas e considerações da parte daquele que a deseja.
A posição de inferioridade, em que se coloca o apaixonado, torna quase sempre a sua cantiga um lamento, expressão do sofrimento amoroso. Esse sentimento era chamado de coitas. A insistência com que essa temática aparece nas Cantigas de Amor torna-as repetitivas. Apesar disso, a Cantiga de Amor, foi o tipo de produções mais importante dentre as cantigas. Em primeiro lugar por ter sido produzido por compositores ligados à nobreza, o que, quase sempre, garante maior riqueza vocabular e estruturação técnica de melhor qualidade. Em segundo lugar, por se dirigir a um público mais culto.
Veja o texto abaixo:
"Tam grave dia que vos conhoci,
por quanto mal me vem por vós, senhor!
ca(1) me ven coita, nunca vi mayor,
sen outro ben, por vós, senhor, des i (2)
por este mal que mh'a mim por vós ven,
come se fosse bem, ven-me por em
gran mal a quem nunca o mereci.
Ca, mha senhor, porque vos eu servi,
sempre digo que sode'la(3) milhor
do mund'e trobo polo (4) vosso amor,
que me fazedes gram ben e assy
veed'ora(5) mha senhor do bon sen, (6)
este bem tal se compre (7) en mi rrem (8),
senon, se valedes vós mays per y (9).
Mais eu, senhor, en mal dia naci.
del que non tem, nem é conhecedor
do vosso bem, a que non fez valor
Deus de lho dar, que lhy fezo bem y,
per, (10) senhor, assy me venha bem,
deste gram bem, que el (11) por ben non tem,
muy poyco del seria grand'a mi.
Poys, mha senhor, rrazon é, quand'alguen
serv'e non pede, já que rem lhi den;
eu sservi sempr'e nunca vos pedi. "
(D. Afonso Sanches )
Vocabulário: 1-porque; 2-desde então; 3-vós sois; 4-trovo pelo;
5-vede a hora; 6-bom senso; 7-se cumpra; 8-nada; 9-isso; 10-porém; 11-ele.
No texto, temo um típico exemplo do amor cortês, com o trovador confessando o seu amor pela mulher, assumindo-a como superior a ele, afirmando que nada quer, a não ser viver o seu próprio sentimento, sem interesse, mas reclama e sente que ela não corresponda aos seus amores.
Cantiga de Amigo
O emissor nas Cantigas de Amigo é a mulher, por isso dizemos que o "eu -lírico"é feminino. Na verdade, também nas Cantigas de Amigo o autor é um homem, mas que se faz passar pela mulher que namora ou pela qual tem interesse.
Nessas cantigas, a mulher, geralmente pertencente a alguma camada social mais popular e menos culta, lamenta a ausência do "amigo"que está longe ou não se apresentou no tempo esperado ou para o encontro combinado entre dois. O tom é de confidência à mãe ou as amigas ou a algum elemento da natureza ( ramo, flor, árvore, lago... ). Em muitas composições, a água ( ondas, mar, lago, fonte ) assume uma forte conotação erótica, metaforicamente, uma vez que o relacionamento entre os namorados era ou deveria vir a ser íntimo.
Quase sempre, as Cantigas de Amigo apresentam uma elaboração estética diferente, em conseqüência de sua origem popular. Seus compositores não são nobres importantes, suas letras, têm menor riqueza vocabular e costumeiramente utilizam paralelismos e/ou refrões, bem como outros recursos que auxiliam no "prolongamento"da canção, com a estruturação musical tornando-se mais acessível ao autor.
Analisadas sob o ponto de vista temático, as Cantigas de Amigo apresentam razoável variedade graças às diferenças situações descritas ou abordadas.
Quanto a um possível valor histórico, documental, também o saldo é significativamente positivo, pelo registro de vivências cotidianas, de usos e relações caracterizadoras, ao menos em parte, da sociedade da época. Outros aspecto, ainda, a contribuir para o aumento desse valor documental, é a existência de vários modelos de cantigas relacionados com situações ou acontecimentos, como a alva ( matutina ), bailia ( para a dança), romaria ( fato religioso ), marinha ( referência ao mar ), mal - maridada ( crise conjugal ), pastorela ( relativa ao campo, pastoreio ), serena ( noturna ), barcarola ( paisagem marítima ).
Veja o texto:
"Non chegou, madr', o meu amigo,
e oj'est (2) o prazo saido (3)!
ai, madre, moiro d'amor!
Non chegou, madr', o meu amado
e oj'est o prazo passado!
ai, madre, moiro d'amor!
E oj'est o prazo saido!
Por que mentiu o desmentido?
ai, madre, moiro d'amor!
E oj'est o prazo passado!
Por que mentiu o perjurado?
ai madre, moiro d'amor!
Porque mentiu o desmentido
pesa-mi (4), pois per si é falido (5).
ai, madre, moiro d'amor!
Por que mentiu o perjurado
pesa-mi, pois mentiu a seu grado,
ai, madre, moiro d'amor! "
Vocabulário: 1-mãe; 2-hoje está; 3-vencido; 4-pesa-me; 5-liquidado, morto.
Cantiga de Escárnio
Esta cantiga é uma composição satírica em que se critica alguém através da zombaria do sarcasmo, traço típico da sátira. O escárnio é identificado como sátira indireta por não ser muito contundente e por "encobrir" a agressividade através de alguma ambigüidade.
"Ai dona fea! foste-vos queixar
porque vos nunca louv'en (1) meu trobar (2)
mais ora (3) quero fazer un cantar
en que vos loarei (4) toda via
e vedes como vos quero loar
dona fea, velha e sandia (5)!
Ai dona fea! se Deus me perdon!
e pois havedes (6) tan gran coraçon
que vos eu loe en esta razon,
vos quero já loar toda via;
e vedes qual será a loaçan (7):
dona fea, velha e sandia!
Dona fea! nuna vos eu loei
en meu trobar, pero (8) muito trobei;
mais ora já un bon cantar farei
en que vos loarei toda via;
e direi-vos como vos loarei:
dona fea, velha e sandia! "
(Joan Garcia de Guilhade )
No escárnio acima, o autor promete falar em sua poesia de uma mulher que reclamou dele por nunca tê-la citado ou elogiado numa de suas cantigas. Mas, visivelmente irritado com isso, ele a chama de feia, velha e louca.
Cantiga de Maldizer
As Cantigas de Maldizer distinguem-se das de Escárnio por apresentar sátira direta. A crítica, sempre contundente e clara, muitas vezes usa o baixo calão ( palavrão ) e dá nome à pessoa criticada ( recurso também utilizado, embora com menos freqüência, nas Cantigas de Escárnio ). As críticas referem-se a comportamentos políticos, sexuais, a nobres traidores, a compositores incapazes, a rivais amorosos, a mulheres de hábitos feios ou imorais, a pessoas, profissionais ou proprietários pretensiosos.
Essas composições satíricas ( Escárnio e Maldizer ) circulavam por lugares públicos como feiras, colheitas, tabernas, periferias urbanas, caracterizando uma literatura marginal, mas, mesmo por isso, de importância
histórica bastante razoável, a exemplo das Cantigas de Amigo, pelo registro social feito. Veja o texto:
"Ben me cuidei eu, Maria Garcia,
en outro dia, quando vos fodi,
que me non partiss'eu de vós assi
como me parti já, mão vazia,
vel (1) por serviço muito que vos fiz;
que me non deste, como x'omen diz (2),
sequer um soldo que ceass'(3) um dia.
Mais detsa seerei (4) eu escarmentado
de nunca foder já outra tal molher,
se m'ant'algo (5) na mão non poser,
ca (6) non ei (7) porque foda endoado (8);
sabedes como: ide-o fazer
con quen teverdes (9) vistid'e (10) calçado.
Ca me non vistides nem me clçades
nem ar (1) sel'eu eno ( 12 ) vosso casal (13 ),
nen avedes (14) sobre min non pagades;
ante mui ben e mais vos en direi:
nulho (15) medo, grad'a (16) Deus, e a el-Rei,
non ei de força que me vós façades.
E, mia dona, quen pregunta non erra;
e vós, por Deus, mandade preguntar
polos naturaes deste logar
se foderan nunca en paz nen en guerra,
ergo (17) se foi por alg'ou por amor.
Id'adubar vossa prol, ai, senhor,
c'avedes, grad'a Deus, renda na terra. "
( Afondo Eanes do Coton )
Vocabulário: 1-em troca de; 2- como se diz; 3-suficiente; 4-sairei; 5- antes me algo; 6-pois; 7-hei, há; 8- de graça;
9- tiverdes; 10- vestido; 11-novamente; 12-na; 13- vossa casa; 14- tendes; 15-nenhum; 16-graças; 17- salvo.
O texto, pela presença do refrão e de paralelismos, pode facilmente ser identificado como Cantiga de Amigo. Quanto ao assunto, a moça reclama porque o "amigo"não a procurou no prazo combinado. A mãe é a sua ouvinte.
OBSERVAÇÃO: muitas vezes, a diferenciação entre Escárnio e Maldizer é difícil, por não haver caracteres rígidos.
Outros Aspectos
A- Cancioneiros
Uma quantidade razoável de cantigas chegaram até nosso dias graças às obras que reuniram parte dessas produções. Essas complicações ( ou códices ) são chamadas Cancioneiros.
Existem três dessas compilações do Trovadorismo português: Cancioneiros da Ajuda ( original; cantigas do século XIII ), Cancioneiro da Biblioteca Vaticana ( cópia de cantigas do século XIV, provavelmente ). Cancioneiro da Biblioteca Nacional ( Colocci - Brancutti ) ( cópia de cantigas do século XV, provavelmente ).
Conhecem-se, ainda, as Cantigas de Santa Maria, uma reunião de mais de 400 composições de conteúdo religioso.
B- Tipos de Autores
Os compositores e cantores são definidos por categoria diferentes. As principais são:
Trovador: compositor, cantor e instrumentador pertencente, na maioria das vezes, à nobreza. Pela qualidade cultural, compunha uma categoria superior.
Segrel: nobre ou fidalgo inferior ou em decadência. Era compositor e cantor, geralmente andarilho e profissional, ou seja, vivia desse trabalho.
Jogral: de origem popular e parca cultura. Raramente compunha, às vezes era bailarino e servia a senhores feudais para distrair a corte ou o exército.
Menestral: também de origem popular, limitava-se a apresentar composições alheiras nos castelos ou feudos em que trabalhava.
C- Nomenclatura
Há um pequeno vocabulário relativo à estruturação técnica de cantigas, do qual listamos parte:
Estribilho ou Refrão = verso repetido na íntegra
Paralelismo = verso repetido com alguma alteração de palavras(s).
Cantigas de Maestria = canção
Palavras = verso
Cobra, Cobla ou Talho = estrofe
Palavra Perdula = verso branco.
Leixa-pren ( deixa -prende ) = o último verso de uma estrofe é repetido como o primeiro verso da estrofe seguinte.
D- Alguns Autores
O registro e a lembrança de muitos autores trovadorescos perderam-se na distância do tempo, mas alguns permanecem até nossos dias:
D.Dinis (1261-1325 ): até aqui é o trovador mais importante. Além de incentivador da cultura e das artes, este monarca português configura delicadeza e simplicidade numa gama variada de sentimentos: dor, tristeza, saudade, expectativa, o que faz da coleção de 138 cantigas de sua autoria a obra mais rica e interessante do Trovadorismo peninsular.
João Garcia de Guilhade: Compôs abundantemente e conseguiu, segundo estudiosos, manter uma boa qualidade geral em sua obra.
Martim Codax: Dado como jogral do século XIII, é autor de bom nível. Suas cantogas estão entre as poucas que tiveram a música, além da letra, preservada até nossos dias.
Paio Soares de Taveirós: Autor da canção A Ribeirinha, que, como já dito antes, marca o início do Trovadorismo português.
E - Prosa Medieval
A prosa medieval portuguesa também tem origem em outras regiões européias e a manifestação mais importantes são as Novelas de Cavalaria, originárias das antigas Canções de Gesta, poemas épicos, guerreiros, dos quais o mais famoso é a célebre Chanson de Roland, de origem francesa.
Essas novelas são ricas em aventuras e heróis cavaleirescos valentes, sempre envolvidos numa vida também rica de perigos e malfeitores, que servem para enfatizar a coragem e decisão de heróis como Tristão, Glaaz, Lancelote, Isolda.
As novelas estão dividas em três grupos, chamados ciclos:
Ciclo Bretão ( Arturiano ): originário da Inglaterra, registra os feitos do rei Artur e os seus cavaleiros. ( Os Cavaleiros da Távola Redonda ). A narrativa mais conhecida é A Demanda do Santo Graal de temática religiosa.
Ciclo Carolíngio: narra os trabalhos heróicos do rei Carlos Magno e os Doze Pares de França, especialmente quando na luta contra os saxões.
Ciclo Greco-latino ( Clássico): narrativas relacionadas à cultura helênica ( Grécia e Roma ).
Uma novela independente desses ciclos e que tem um destaque especial é Amadis de Gaula, de autor ibérico, em que se registra o heroísmo do bretão Amadis que, por ser do país de Gales, recebe o complemento Gaula, daí o nome "Amado de Gaula".
Outras atividades da prosa medieval portuguesa: Livros de Linhagem ( listas gencalógicas de famílias fidalga ); Cronicões ( registro de documentos historiográficos ); Hagiografias ( biografias de santos ).
Fonte: www.profabeatriz.hpg.ig.com.br
Trovadorismo
Designa-se por Trovadorismo o período que engloba a produção literária de Portugal durante seus primeiros séculos de existência (séc. XII ao XV). No âmbito da poesia, a tônica são mesmo as Cantigas em suas modalidades; enquanto a prosa apresenta as Novelas de Cavalaria.
Contexto Histórico
Momento final da Idade Média na Península Ibérica, onde a cultura apresenta a religiosidade como elemento marcante.
A vida do homem medieval é totalmente norteada pelos valores religiosos e para a salvação da alma. O maior temor humano era a idéia do inferno que torna o ser medieval submisso à Igreja e seus representantes.
São comuns procissões, romarias, construção de templos religiosos, missas etc. A arte reflete, então, esse sentimento religioso em que tudo gira em torno de Deus. Por isso, essa época é chamada de Teocêntrica.
As relações sociais estão baseadas também na submissão aos senhores feudais. Estes eram os detentores da posse da terra, habitavam castelos e exerciam o poder absoluto sobre seus servos ou vassalos. Há bastante distanciamento entre as classes sociais, marcando bem a superioridade de uma sobre a outra.
O marco inicial do Trovadorismo data da primeira cantiga feita por Paio Soares Taveirós, provavelmente em 1198, entitulada Cantiga da Ribeirinha.
Características
A poesia desta época compõe-se basicamente de cantigas, geralmente com acompanhamento de instrumentos (alaúde, flauta, viola, gaita etc.). Quem escrevia e cantava essas poesias musicadas eram os jograis e os trovadores. Estes últimos deram origem ao nome deste estilo de época português.
Mais tarde, as cantigas foram compiladas em Cancioneiros. Os mais importantes Cancioneiros desta época são o da Ajuda, o da Biblioteca Nacional e o da Vaticana.
As cantigas eram cantadas no idioma galego-português e dividem-se em dois tipos: líricas (de amor e de amigo) e satíricas (de escárnio e mal-dizer).
Do ponto de vista literário, as cantigas líricas apresentam maior potencial pois formam a base da poesia lírica portuguesa e até brasileira. Já as cantigas satíricas, geralmente, tratavam de personalidades da época, numa linguagem popular e muitas vezes obscena.
Cantigas de amor
Origem da Provença, região da França, trazidas através dos eventos religiosos e contatos entre as cortes. Tratam, geralmente, de um relacionamento amoroso, em que o trovador canta seu amor a uma dama, normalmente de posição social superior, inatingível. Refletindo a relação social de servidão, o trovador roga a dama que aceite sua dedicação e submissão.
Eu-lírico - masculino
Cantigas de amigo
Neste tipo de texto, quem fala é a mulher e não o homem. O trovador compõe a cantiga, mas o ponto de vista é feminino, mostrando o outro lado do relacionamento amoroso - o sofrimento da mulher à espera do namorado (chamado "amigo"), a dor do amor não correspondido, as saudades, os ciúmes, as confissões da mulher a suas amigas, etc. Os elementos da natureza estão sempre presentes, além de pessoas do ambiente familiar, evidenciando o caráter popular da cantiga de amigo.
Eu-lírico - feminino
Cantigas satíricas
Aqui os trovadores preocupavam-se em denunciar os falsos valores morais vigentes, atingindo todas as classes sociais: senhores feudais, clérigos, povo e até eles próprios.
Cantigas de escárnio - crítica indireta e irônica
Cantigas de maldizer - crítica direta e mais grosseira
A prosa medieval retrata com mais detalhes o ambiente histórico-social desta época. A temática das novelas medievais está ligada à vida dos cavaleiros medievais e também à religião.
A Demanda do Santo Graal é a novela mais importante para a literatura portuguesa. Ela retrata as aventuras dos cavaleiros do Rei Artur em busca do cálice sagrado (Santo Graal). Este cálice conteria o sangue recolhido por José de Arimatéia, quando Cristo estava crucificado. Esta busca (demanda) é repleta de simbolismo religioso, e o valoroso cavaleiro Galaaz consegue o cálice.
Textos
Cantiga de Amor
Senhora minha, desde que vos vi,
lutei para ocultar esta paixão
que me tomou inteiro o coração;
mas não o posso mais e decidi
que saibam todos o meu grande amor,
a tristeza que tenho, a imensa dor
que sofro desde o dia em que vos vi.
lutei para ocultar esta paixão
que me tomou inteiro o coração;
mas não o posso mais e decidi
que saibam todos o meu grande amor,
a tristeza que tenho, a imensa dor
que sofro desde o dia em que vos vi.
Quando souberem que por vós sofri
Tamanha pena, pesa-me, senhora,
que diga alguém, vendo-me triste agora,
que por vossa crueza padeci,
eu, que sempre vos quis mais que ninguém,
e nunca me quiseste fazer bem,
nem ao menos saber o que eu sofri.
Tamanha pena, pesa-me, senhora,
que diga alguém, vendo-me triste agora,
que por vossa crueza padeci,
eu, que sempre vos quis mais que ninguém,
e nunca me quiseste fazer bem,
nem ao menos saber o que eu sofri.
E quando eu vir, senhora, que o pesar
que me causais me vai levar à morte,
direi, chorando minha triste sorte:
"Senhor, porque me vão assim matar?"
E, vendo-me tão triste e sem prazer,
todos, senhora, irão compreender
que só de vós me vem este pesar.
que me causais me vai levar à morte,
direi, chorando minha triste sorte:
"Senhor, porque me vão assim matar?"
E, vendo-me tão triste e sem prazer,
todos, senhora, irão compreender
que só de vós me vem este pesar.
Já que assim é, eu venho-vos rogar
que queirais pelo menos consentir
que passe a minha vida a vos servir,
e que possa dizer em meu cantar
que esta mulher, que em seu poder me tem,
sois vós, senhora minha, vós, meu bem;
graça maior não ousarei rogar.
que queirais pelo menos consentir
que passe a minha vida a vos servir,
e que possa dizer em meu cantar
que esta mulher, que em seu poder me tem,
sois vós, senhora minha, vós, meu bem;
graça maior não ousarei rogar.
Afonso Fernandes
Cantiga de Amigo
Enquanto Deus me der vida,
viverei triste e coitada,
porque se foi meu amigo,
e disso fui a culpada,
pois que me zanguei com ele
quando daqui se partia:
por Deus, se agira voltasse,
muito alegre eu ficaria.
viverei triste e coitada,
porque se foi meu amigo,
e disso fui a culpada,
pois que me zanguei com ele
quando daqui se partia:
por Deus, se agira voltasse,
muito alegre eu ficaria.
E sei que andei muito mal
em zangar-me como fiz,
porque ele não o merecia
e se foi muito infeliz,
pois que me zanguei com ele
quando daqui se partia:
por Deus, se agira voltasse,
muito alegre eu ficaria.
em zangar-me como fiz,
porque ele não o merecia
e se foi muito infeliz,
pois que me zanguei com ele
quando daqui se partia:
por Deus, se agira voltasse,
muito alegre eu ficaria.
Certamente ele supõe
que comigo está perdido,
do contrário, voltaria,
porém, sente-se ofendido,
pois que me zanguei com ele
quando daqui se partia:
por Deus, se agira voltasse,
muito alegre eu ficaria.
que comigo está perdido,
do contrário, voltaria,
porém, sente-se ofendido,
pois que me zanguei com ele
quando daqui se partia:
por Deus, se agira voltasse,
muito alegre eu ficaria.
Juan Lopes
Cantiga de Escárnio
Conheceis uma donzela
por quem trovei e a que um dia
chamei de Dona Beringela?
nunca tamanha porfia
vi nem mais disparatada.
Agora que está casada
chamam-lhe Dona Maria.
por quem trovei e a que um dia
chamei de Dona Beringela?
nunca tamanha porfia
vi nem mais disparatada.
Agora que está casada
chamam-lhe Dona Maria.
Algo me traz enjoado,
assim o céu me defenda:
um que está a bom recato
(negra morte o surpreenda
e o Demônio cedo o tome!)
quis chamá-la pelo nome
e chamou-lhe Dona Ousenda.
assim o céu me defenda:
um que está a bom recato
(negra morte o surpreenda
e o Demônio cedo o tome!)
quis chamá-la pelo nome
e chamou-lhe Dona Ousenda.
Pois que se tem por formosa
quanto mais achar-se pode,
pela Virgem gloriosa!
um homem que cheira a bode
e cedo morra na forca
quando lhe cerrava a boca
chamou-lhe Dona Gondrode.
quanto mais achar-se pode,
pela Virgem gloriosa!
um homem que cheira a bode
e cedo morra na forca
quando lhe cerrava a boca
chamou-lhe Dona Gondrode.
Dom Afonso Sanches
Cantiga de Maldizer
Ai dona fea! Foste-vos queixar
Que vos nunca louv'en meu trobar
Mais ora quero fazer un cantar
En que vos loarei toda via;
E vedes como vos quero loar:
Dona fea, velha e sandia!
Que vos nunca louv'en meu trobar
Mais ora quero fazer un cantar
En que vos loarei toda via;
E vedes como vos quero loar:
Dona fea, velha e sandia!
Ai dona fea! Se Deus mi pardon!
E pois havedes tan gran coraçon
Que vos eu loe en esta razon,
Vos quero já loar toda via;
E vedes qual será a loaçon:
Dona fea, velha e sandia!
E pois havedes tan gran coraçon
Que vos eu loe en esta razon,
Vos quero já loar toda via;
E vedes qual será a loaçon:
Dona fea, velha e sandia!
Dona fea, nunca vos eu loei
En meu trobar, pero muito trobei;
Mais ora já en bom cantar farei
En que vos loarei toda via;
E direi-vos como vos loarei:
Dona fea, velha e sandia!
En meu trobar, pero muito trobei;
Mais ora já en bom cantar farei
En que vos loarei toda via;
E direi-vos como vos loarei:
Dona fea, velha e sandia!
Trovadorismo
Symphonia da Cantiga 160, Cantigas de Santa Maria de Afonso X, o Sábio - Códice do Escorial. (1221-1284).
Trovadorismo, também conhecido como Primeira Época Medieval, é o primeiro movimento literário da língua portuguesa. Seu surgimento ocorreu no mesmo período em que Portugal começou a despontar como nação independente, no século XII; porém, as suas origens deram-se na Occitânia, de onde se espalhou por praticamente toda a Europa. Apesar disso, a lírica medieval galaico-português possuiu características próprias, uma grande produtividade e um número considerável de autores conservados.
As origens do Trovadorismo
Os textos dos trovadores medievais foram preservados em pergaminhos, como por exemplo o Pergaminho Vindel
São admitidas quatro teses fundamentais para explicar a origem dessa poesia: a tese arábica, que considera a cultura arábica como sua velha raiz; a tese folclórica, que a julga criada pelo próprio povo; a tese médio-latinista, segundo a qual essa poesia teria origem na literatura latina produzida durante a Idade Média; e, por fim, a tese litúrgica, que a considera fruto da poesia litúrgico-cristã elaborada na mesma época. Todavia, nenhuma das teses citadas é suficiente em si mesma, deixando-nos na posição de aceitá-las conjuntamente, a fim de melhor abarcar os aspectos constantes dessa poesia.A mais antiga manifestação literária galaico-portuguesa que se pode datar é a cantiga "Ora faz host'o senhor de Navarra", do trovador português João Soares de Paiva ou João Soares de Pávia, composta provavelmente por volta do ano 1200. Por essa cantiga ser a mais antiga datável (por conter dados históricos precisos), convém datar daí o início do Lírica medieval galego-portuguesa (e não, como se supunha, a partir da "Cantiga de Guarvaia", composta por Paio Soares de Taveirós, cuja data de composição é impossível de apurar com exactidão, mas que, tendo em conta os dados biográficos do seu autor, é certamente bastante posterior). Este texto também é chamado de "Cantiga da Ribeirinha" por ter sido dedicada à Dona Maria Paes Ribeiro, a ribeirinha. De 1200, a Lírica galego-portuguesa se estende até meados do século XIV, sendo usual referir como termo o ano de 1350, data do testamento do Conde D. Pedro, Conde de Barcelos|D. Pedro de Barcelos, filho primogênito bastardo de D. Dinis, ele próprio trovador e provável compilador das cantigas (no testamento, D. Pedro lega um "Livro das Cantigas" a seu sobrinho, D.Afonso XI de Castela).
Trovadores eram aqueles que compunham as poesias e as melodias que as acompanhavam, e cantigas são as poesias cantadas. A designação "trovador" aplicava-se aos autores de origem nobre, sendo que os autores de origem vilã tinham o nome de jogral, termo que designava igualmente o seu estatuto de profissional (em contraste com o trovador). Ainda que seja coerente a afirmação de que quem tocava e cantava as poesias eram os jograis, é muito possível que a maioria dos trovadores interpretasse igualmente as suas próprias composições.
A mentalidade da época baseada no teocentrismo serviu como base para a estrutura da cantiga de amigo, em que o amor espiritual e inatingível é retratado.As cantigas, primeiramente destinadas ao canto, foram depois manuscritas em cadernos de apontamentos, que mais tarde foram postas em coletâneas de canções chamadas Cancioneiros (livros que reuniam grande número de trovas). São conhecidos três Cancioneiros galego-portugueses: o "Cancioneiro da Ajuda", o "Cancioneiro da Biblioteca Nacional de Lisboa" (Colocci-Brancutti) e o "Cancioneiro da Vaticana". Além disso, há um quarto livro de cantigas dedicadas à Virgem Maria pelo rei Afonso X de Leão e Castela, O Sábio. Surgiram também os textos em prosa de cronistas como Rui de Pina, Fernão Lopes e Gomes Eanes de Zurara e as novelas de cavalaria, como a demanda do Santo Graal..
Classificação das cantigas
Com base na maioria das cantigas reunidas nos cancioneiros, podemos classificá-las da seguinte forma:
Cantigas Lírico-Amorosas
Cantigas Satíricas
A cantiga de amor
O cavalheiro se dirige à mulher amada como uma figura idealizada, distante. O poeta, na posição de fiel vassalo, se põe a serviço de sua senhora, dama da corte, tornando esse amor um objeto de sonho, distante, impossível.Mas nunca consegue conquistá-la,porque tem medo e tambem porque ela rejeita tua canção.Neste tipo de cantiga, originária de Provença, no sul de França, o eu-lírico é masculino e sofredor. Sua amada é chamada de senhor (as palavras terminadas em or como senhor ou pastor, em galego-português não tinham feminino). Canta as qualidades de seu amor, a "minha senhor", a quem ele trata como superior revelando sua condição hierárquica. Ele canta a dor de amar e está sempre acometido da "coita", palavra frequente nas cantigas de amor que significa "sofrimento por amor". É à sua amada que se submete e "presta serviço", por isso espera benefício (referido como o bem nas trovas).
Essa relação amorosa vertical é chamada "vassalagem amorosa", pois reproduz as relações dos vassalos com os seus senhores feudais. Sua estrutura é mais sofisticada.
São tipos de Cantiga de Amor: -Cantiga de Meestria: é o tipo mais difícil de cantiga de amor. Não apresenta refrão, nem estribilho, nem repetições (diz respeito à forma.) -Cantiga de Tense ou Tensão: diálogo entre cavaleiros em tom de desafio. Gira em torno da mesma mulher. -Cantiga de Pastorela: trata do amor entre pastores (plebeus) ou por uma pastora (plebéia). -Cantiga de Plang: cantiga de amor repleta de lamentos.
Exemplo de lírica galego-portuguesa (de Bernal de Bonaval):
"A dona que eu am'e tenho por Senhor
amostrade-me-a Deus, se vos en prazer for,
se non dade-me-a morte.
A que tenh'eu por lume d'estes olhos meus
e porque choran sempr(e) amostrade-me-a Deus,
se non dade-me-a morte.
Essa que Vós fezestes melhor parecer
de quantas sei, a Deus, fazede-me-a veer,
se non dade-me-a morte.
A Deus, que me-a fizestes mais amar,
mostrade-me-a algo possa con ela falar,
se non dade-me-a morte."
- Eu lírico masculino
- Assunto Principal: o sofrimento amoroso do eu-lírico perante uma mulher idealizada e distante.
- Amor cortês; vassalagem amorosa.
- Amor impossível.
- Ambientação aristocrática das cortes.
- Forte influência provençal.
- Vassalagem amorosa "o eu lírico usa o pronome de tratamento "senhora"".
A cantiga de amigo
São cantigas de origem popular, com marcas evidentes da literatura oral (reiterações, paralelismo, refrão, estribilho), recursos esses próprios dos textos para serem cantados e que propiciam facilidade na memorização. Esses recursos são utilizados, ainda hoje, nas canções populares.Este tipo de cantiga, que não surgiu em Provença como as outras, teve suas origens na Península Ibérica. Nela, o eu-lírico é uma mulher (mas o autor era masculino, devido à sociedade feudal e o restrito acesso ao conhecimento da época), que canta seu amor pelo amigo (isto é, namorado), muitas vezes em ambiente natural, e muitas vezes também em diálogo com sua mãe ou suas amigas. A figura feminina que as cantigas de amigo desenham é, pois, a da jovem que se inicia no universo do amor, por vezes lamentando a ausência do amado, por vezes cantando a sua alegria pelo próximo encontro. Outra diferença da cantiga de amor, é que nela não há a relação Suserano x Vassalo, ela é uma mulher do povo. Muitas vezes tal cantiga também revelava a tristeza da mulher, pela ida de seu amado à guerra.
Exemplo (de D. Dinis)
"Ai flores, ai flores do verde pino,
se sabedes novas do meu amigo!
ai Deus, e u é?
Ai flores, ai flores do verde ramo,
se sabedes novas do meu amado!
ai Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amigo,
aquel que mentiu do que pôs comigo!
ai Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amado,
aquel que mentiu do que mi há jurado!
ai Deus, e u é?"
(...)
- Eu lírico feminino.
- Presença de paralelismos.
- Predomínio da musicalidade.
- Assunto Principal: o lamento da moça cujo namorado partiu.
- Amor natural e espontâneo.
- Amor possível.
- Ambientação popular rural ou urbana.
- Influência da tradição oral ibérica.
- Deus é o elemento mais importante do poema.
- Pouca subjetividade.
A cantiga de escárnio
Em cantiga de escárnio, o eu-lírico faz uma sátira a alguma pessoa. Essa sátira era indireta, cheia de duplos sentidos. As cantigas de escárnio (ou "de escarnho", na grafia da época) definem-se, pois, como sendo aquelas feitas pelos trovadores para dizer mal de alguém, por meio de ambiguidades, trocadilhos e jogos semânticos, em um processo que os trovadores chamavam "equívoco". O cômico que caracteriza essas cantigas é predominantemente verbal, dependente, portanto, do emprego de recursos retóricos. A cantiga de escárnio exigindo unicamente a alusão indireta e velada, para que o destinatário não seja reconhecido, estimula a imaginação do poeta e sugere-lhe uma expressão irônica, embora, por vezes, bastante mordaz. Exemplo de cantiga de escárnio.Ai, dona fea, foste-vos queixar
que vos nunca louv[o] em meu cantar;
mais ora quero fazer um cantar
em que vos loarei toda via;
e vedes como vos quero loar:
dona fea, velha e sandia! (...)
- Crítica indireta; normalmente a pessoa satirizada não é identificada.
- Linguagem trabalhada, cheia de sutilezas, trocadilho e ambiguidades
- Ironia
A cantiga de maldizer
Ao contrário da cantiga de escárnio, a cantiga de maldizer traz uma sátira direta e sem duplos sentidos. É comum a agressão verbal à pessoa satirizada, e muitas vezes, são utilizados até palavrões. O nome da pessoa satirizada pode ou não ser revelado.Exemplo de cantiga Joan Garcia de Guilhade
"Ai dona fea! Foste-vos queixar
Que vos nunca louv'en meu trobar
Mais ora quero fazer un cantar
En que vos loarei toda via;
E vedes como vos quero loar:
Dona fea, velha e sandia!
Ai dona fea! Se Deus mi pardon!
E pois havedes tan gran coraçon
Que vos eu loe en esta razon,
Vos quero já loar toda via;
E vedes qual será a loaçon:
Dona fea, velha e sandia!
Dona fea, nunca vos eu loei
En meu trobar, pero muito trobei;
Mais ora já en bom cantar farei
En que vos loarei toda via;
E direi-vos como vos loarei:
Dona fea, velha e sandia!"
Este texto é enquadrado como cantiga de escárnio já que a sátira é indireta e não cita-se o nome da pessoa especifica. Mas, se o nome fosse citado ela seria uma Cantiga de Maldizer, pois contém todas as características diretas como sátira da "Dona". Existe a suposição que Joan Garcia escreveu a cantiga anterior uma senhora que reclamava por ele não ter escrito nada em homenagem a ela. Joan Garcia de tanto ouvi-lá dizer, teria produzido a cantiga.
Trovadores
- Crítica direta; geralmente a pessoa satirizada é identificada
- Linguagem agressiva, direta, por vezes obscena
- Zombaria
Trovadores
- Afonso Sanches
- Aires Corpancho
- Aires Nunes
- Bernardo Bonaval
- Dom Dinis I de Portugal
- D. Pedro, Conde de Barcelos
- João Garcia de Guilhade
- João Soares de Paiva ou João Soares de Pávia
- João Zorro
- Paio Gomes Charinho
- Paio Soares de Taveirós (Cantiga da Garvaia)
- Meendinho
- Martim Codax
- Nuno Fernandes Torneol
- Guilherme IX, Duque da Aquitânia
- Pedro III de Aragão
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