Resumo:
O presente artigo tem como objetivo
apresentar aspectos antropológicos da filosofia de RenéDescartes, a partir dos
capítulo IV e V da obra
Discurso do Método
e também da VI meditação da obra
Meditações.
Capítulos estes que englobam a
centralidade do pensamento acerca do
cogito
e da
res cogitans
,caracterizados como a essência do
homem, isto é, o homem é, para Descartes, essencialmente alma,
substancia pensante. Em contrapartida, tal filósofo compreende
res extensa ou
substância extensa numa visão maismecanicista,
sendo a alma autônoma em relação ao corpo físico, mas formando com ele, uma
unidadesubstancial, porém, existindo um pequena parte do cérebro, a glândula
pineal, responsável pelas comunicaçãodestas duas substâncias, acima
mencionadas.
Palavras-chave:
Descartes. Antropologia.
Res cogitans.
Alma. Mecanicismo.
Breve contextualização da cosmovisão da
idade moderna
Historicamente a Idade Moderna se
inicia no início do século XVI, auge do Humanismorenascentista, e se estende
até os fins do século XVIII e, que durante estes 300 anos muitosacontecimentos
no campo político, econômico, social, científico e religioso
marcaramconsideravelmente esta transição da Idade Média para o mundo Moderno.
Para muitos umaruptura drástica, para outros muitos elementos de continuidade
podem ser identificados.Dentre deste contexto, a Filosofia também adquire novas
concepções de mundo, a partir defilósofos que eram muito ligados as ciências
naturais, tais como a matemática e a física. Comefeito, uma visão matematizante
(racionalismo matemático) da realidade era comum neste período, em contrapondo a uma visão mais transcendental, bem como uma elevação do
homem, e consequente “declínio” da
metafísica.
Por conseguinte, tem-se uma concepçãocientífica
mecanicista, isto é, o mundo e o homem são vistos como grandes máquinas, onde
aexplicação laboral e sistemática assume a explicação das realidades
universais.Esta visão mecanicista do mundo propicia ao homem um
status
de menor
dependência asrealidades transcendentes (especialmente do Deus cristão), tornando-se
assim, sujeito de si, eocupando um lugar de destaque no cosmos (cosmovisão
moderna), isto é, na modernidade há
1
Graduado em Matemática pelo Centro de
Ensino Superior de Juiz de Fora_CES-JF e graduando em Filosofia pela
Faculdade Arquidiocesana de Mariana Dom Luciano Pedro Mendes de Almeida_FAM
2uma concepção antropocêntrica
(contrapondo a visão teocêntrica advinda do mundomedieval). Nisso o homem
percebe-se mais valorizado em sua condição humana e suacapacidade de
interferência no mundo. Com efeito, surge uma mentalidade humanista (nãosomente
na visão acadêmica/intelectual) que tende a se opor ao tradicionalismo, seja
nacultura, na religião, na literatura, ou em outros campos, e a uma valorização
de mais uma vidaativa ante uma vida contemplativa.O humanismo, então, é um dos
grandes pilares do modernismo, desencadeando oRenascimento cultural da época.
Termo este, que sugere uma ruptura com o medievo, masque ao mesmo tempo conserva alguns elementos desse período, denotando
certa continuidade,como já mencionado. Os chamados humanistas queriam
também, além de uma revoluçãoartística e cultural, uma renovação do
cristianismo, recorrendo a princípios de liberdadeindividual e exaltação da
razão advindos do pensamento da cultura greco-romana. Haja visto,que foi nesta
cultura antiga, que o homem ganha um certo destaque e, agora, no mundomoderno
estes princípios de individualidade é resgatado.Em suma, podemos destacar os seguintes aspectos que caracterizam a
cosmovisão do mundomoderno:
Racionalismo (nas ciências,
contrapondo-se aos dados da fé, revelados);
Revolução Científica: apelo ao demonstrável
cientificamente;
Antropocentrismo;
Mecanicismo;
Humanismo (cultura humanista antropocêntrica);
Renascimento (oposição ao
tradicionalismo);
Individualismo (associado à liberdade).
Subjetivismo/solipsismoÉ neste contexto
especifico que René Descartes (1596
–
1650) inaugura sua filosofiametódica,
instaurando a dúvida metódica como fundamento da certeza, isto é, para se
atingir ideias claras e distintas (evidentes) deve-se primeiramente
suspender o juízo, perpassando posteriormente pelo crivo do método
2
. É daí, que Descartes chega ao primeiro
principio de
2
Verificar/evidenciar, analisar,
sintetizar e enumerar.
3sua filosofia,ou seja, a evidencia de
sua existência, enquanto ser pensante. A máxima
Cogito,ergo sum!
surge, então, da certeza indubitável de
se perceber como um ser dotado de uma
rescogitans
que lhe propicia a constatação de sua
própria existência. A concepção cartesiana temseus pontos fundamentais na
subjetividade e autoconsciência da substancia pensante (
rescogitans)
e a visão mecanicista do homem (
res extensa)
e do mundo.
1. A descoberta do
cogito
Descartes, a principio, acreditara que
os sentidos podiam suscitar ideias confiáveis.Posteriormente, rejeitando tudo
aquilo que poderia conter um mínimo de dúvida, resolvesuspender o juízo sobre
as coisas que antes acreditara como verdadeiras, fazendo com queestas passassem
pelo crivo de método, uma vez que achara
“
erros nos juízos fundados nos
sentidos exteriores [...] [e] nos
interiores”
(
Meditações
§13,14)
,
constatando que por vezes ossentidos nos enganam, assim como em alguns sonhos
(
Discurso do Método,
1979
,
p. 46).Porém, de uma coisa Descartes
acreditava que não podia duvidar, ou seja, o fato de ser um ser que
pensa sobre a dúvida, e que, portanto, se é um ser que duvida, logo pensa. O
pensamento,neste caso, conduz a certeza da existência, como constata o próprio Descartes:
enquanto eu queria assim pensar que
tudo era falso, cumpria necessariamente queeu, que pensava, fosse alguma coisa.
E, notando que esta verdade:
eu penso, logoexisto
, era tão firme e tão certa que todas
as mais extravagantes suposições doscéticos não seriam capazes de a abalar,
julguei que podia aceitá-la, sem escrúpulo,como o primeiro princípio da
Filosofia que procurava [existo como coisa pensante]. (idem, p. 46, grifo
nosso)
O
cogito
nasce desta impossibilidade da não
existência de si, isto é, nasce da evidência eautoconsciência de si em relação
ao outro. Esta é a primeira certeza auto-evidente queDescartes assume como
isenta de dúvida, mas concebe posteriormente outros tipos de ideiascomo nos
afirma Reale e Antiseri:
“
Descartes divide as idéias em
idéias inatas
, isto é, as queencontramos em nós
mesmos, nascidas junto com a nossa consciência;
idéias adventícias
, istoé, que vêm de fora e nos remetem
as coisas inteiramente diferentes de nós;
idéias factícias
ouconstruídas por nós mesmos
”
. (2005, p. 369). Mas, não cabe aqui adentrar nesta
problemática,visto que excede o assunto em pauta.
por: Júnior César de Sousa
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