Por diversas vezes paro pra
pensar como poucos anos de idade fazem diferença na relação com a tecnologia e
o que ela interfere no cotidiano de cada um. E as vezes nem precisa de
diferença de idade pra isso. Tenho amigos que ficam em instant messengers
enquanto estão na praia, tomando Sol e bebendo uma caipirinha com os amigos.
Pra mim praia é pra fazer outras coisas. Reparo no número de pessoas que, na
mesa dum bar, estão de cabeça baixa mandando SMS pra sei lá quem enquanto os
outros amigos (caso não estejam fazendo o mesmo), conversam ou aguardam
terminar. Pra mim isso tudo é estranho demais, pros outros é normal e cada um
segue do jeito que gosta. E como será fazer produtos editoriais (sejam em
qualquer suporte) pra um determinado público, com a mesma idade, que mora em
regiões próximas, com bagagem cultural semelhante mas que tem hábitos de
leitura que podem ser tão diferentes? Meu primo, 9 anos mais novo, lê histórias
em quadrinhos na tela do PC dele. Pra mim é impossível. E um Kindle? Satisfaz a sensação de ler? E
um iPad, serve pra ler as
revistas ou simplesmente brincar com as interações num novo suporte? Bem,
quando comecei a reparar e refletir nesses comportamentos, me lembrei de uma
“velha leitura”, com ótimas definições de tipos de leitores e como eles se
comportam, o que esperam dos textos, estejam eles onde estiverem. Li novamente
o conteúdo. São eles:
1. O
leitor contemplativo, meditativo
Desde Idade Média, quando se
instituiu que a leitura nas bibliotecas seriam feitas em silêncio, uma grande
mudança ocorreu no processo de entendimento de um texto: depois de séculos a
leitura passaria a ser algo muito mais íntimo e pessoal, sem a presença de um
orador, sem interferências extenas e apenas feita pelo movimento dos olhos e o
virar das páginas. É nesse momento que nasce o leitor contemplativo. Esse tipo
de leitor se isenta de situações mundanas para se concentrar na leitura, numa
atividade solitária, que pode ser interrompida para reflexão, retornada, feita
novamente por dezenas de vezes até que o endendimento seja feito do modo
desejado. É o leitor que procurou o isolamento para absorção do conteúdo, que
não se preocupa com quanto tempo faz que está lendo nem tem pressa pra
terminar. Da mesma maneira poderiam “ler” quadros ou esculturas numa galeria ou
admirar e perceber a arquitetura que o cerca.
2. O
leitor movente, fragmentado
É o leitor que surge pós
Revolução Industrial, aquele que viu as locomotivas trazendo esperanças em
formato de produtos produzidos em grande escala, que ganharam horários rígidos
nas fábricas e que tudo isso, junto com o cinema, a luz elétrica, o telégrafo,
depois os jornais, revistas e tudo que poderia cercar as pessoas com
informações. Todos os lugares tinham textos que acendiam e apagavam nos
luminosos dos estabelecimentos comerciais dos mais diversos tipos, além de
cartazes de propaganda, rótulos de produtos, fachadas, automóveis, placas de sinalização.
Médicos, veterinários e advogados viraram produtos também. Os centros
comerciais, as ruas e os boulevards passaram a ser grandes vitrines com todo
tipo de informação, que é lida rapidamente e sem intimidade, numa batida de
olhos, onde pessoas passam a todo momento praticamente que despercebidas entre
o leitor e elas, que também podem ser leitores desse tipo. Imagens e textos que
seduzem e fazem produtos serem vendidos ou simplesmente desejados. Todo mundo
(leitores moventes) lendo tudo ao redor, rapidamente e com menos concentração e
com a pressa que a vida pós Revolução Industrial foi emprestando pra todos. É o
leitor intermediário entre o contemplativo e o imersivo.
3. O
leitor imersivo, virtual
Com todos os aparatos digitais e
possibilidades, não é difícil de imaginar como é esse tipo de leitor. Nada de
rolos de papel como na Antiguidade, nem de grandes blocos de papel, nem objetos
que o fazem tropeçar em diversos elementos que podem ser lidos e notados, como
na letra de “Alegria, alegria”, de Caetano Veloso. Nada de ordem para ler. O
leitor imersivo está a todo tempo em prontidão para receber e ler novas
informações, traça seu próprio caminho em navegações alineares ou
multilineares. É o leitor que passeia por várias dimensões de conteúdos através
dos nós que as une, que pode ter uma leitura que não tem fim, que entrecruza os
dados com outros textos, os compara e gera um terceiro ou um quarto conteúdo.
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