sexta-feira, 29 de agosto de 2014

A adequação discursiva

Assumindo que, de uma forma global e simplista, discurso é todo oenunciado que um falante produz em situação de comunicação, ou seja,quando está a falar com alguém ou a comunicar através de outro canal(carta, Internet, requerimento, etc.), a adequação corresponde à escolhadas palavras apropriadas face à situação concreta que o falante está aviver, tendo em conta a relação social que existe entre ele e o seuinterlocutor, bem como o obje(c)tivo da comunicação.Adequação discursiva é não dar os parabéns a um amigo que perdeu umfamiliar. Adequação discursiva é não usar vocabulário característico de umgrupo de jovens («Tá bem, meu», etc.), quando se fala com um superiorhierárquico, etc., etc., etc.
FORMAS DE TRATAMENTO
As formas de tratamento são expressões a que se recorre em situação decomunicação, sempre como o obje(c)tivo de assinalar o tipo de relaçãoque se estabelece entre os interlocutores:
tu
;
o senhor
,
vossemecê
(acair em desuso),
você
(sentido por muita gente como inadequado, emPortugal), etc.Na comunicação / interacção desenvolvem-se objectivossociocomunicativos e princípios conversacionais como o da
cortesia
,controlados ainda por códigos de boas maneiras existentes numasociedade.A opção por uma forma de tratamento mais adequada à situaçãointeractiva é determinada pela familiaridade / proximidade ou distânciapsicossocial entre o locutor e o interlocutor.Para evitar obstáculos ou ruptura na comunicação, o uso formal da línguarevela eficientemente as
faces
do locutor e do interlocutor.A par destas formas gerais, há outras que incluem menção distintiva:
Familiar – tu, amigo, você…
Formal – o senhor, a senhora, a senhora dona…
Honorífico – Senhor Presidente, Senhor Ministro, Meritíssimo Juiz…

Nobiliárquico – Sua Majestade, Sua Alteza…
Eclesiástico – Sua Santidade, Monsenhor, Sua Eminência, SenhorPadre …
Académico – Senhor Doutor, Senhor Professor, Professor Doutor …
Princípio de cortesia
(princípio regulador para um modo correcto dainteracção discursiva)A delicadeza e a cortesia, embora princípios de comportamento social (darprioridade às senhoras ou aos mais velhos, por exemplo), têm reflexo naexpressão linguística. Há uma série de fórmulas e expressõesconvencionalmente consideradas de delicadeza que impedem que aenunciação seja ofensiva ou ameaçadora para os interlocutores.O
princípio da cortesia
determina uma certa suavidade da forçailocutória dos actos directivos que se revela, principalmente, no uso deactos de fala indirectos.-
Importas-te de
estar calado? (em vez de “- Cala-te!” segue oprincípio de cortesia.)-
Desculpe
, mas não poderá calar-se? (Cale-se! / Esteja calado!)-
Lamento
, mas não percebi. (é marcadamente assertivo, mas oprincípio de cortesia aproxima-o do expressivo.)As ordens, os pedidos, as instruções ou as perguntas podem ser atenuadospor formas ou expressões como :
é capaz de … ; podia … / poderia …; do meu ponto de vista …; naminha opinião …; desculpe …; lamento …; importa-se de … / importas-te de …

Face
A face, na acepção de auto-imagem no desempenho do discurso, consisteno modo como uma pessoa mantém a sua face ou a perde. Esta podemelhorar ou deteriorar-se de maneira a apresentar-se uma imagem maisou menos firme perante os outros.Quanto melhor for a imagem, mais os outros mostrarão a sua aprovação.Através da comunicação verbal, cada pessoa revela a sua imagem pessoal
aos outros e é avaliada pelo que diz e pela maneira como o diz. Aconteceque a face do locutor está relacionada com a qualidade da face dointerlocutor, por isso ambos se empenharão em manter uma boa imagemda sua própria face.
A
face negativa
revela a vontade do locutor em não encontrarobstáculos no desempenho das suas acções – princípio de cortesiada não imposição;
A
face positiva
demonstra a vontade do locutor em conseguir aadesão do(s) interlocutor (es) aos seus objectivos / intenções –necessidade de aprovação ou de admiração.
REGISTO FORMAL E REGISTOINFORMAL
A língua oferece aos falantes múltiplos recursos e possibilidades de realização emdiscurso.
A utilização da língua depende da situação de comunicação
e requerdiferentes tipos de escolhas linguísticas quanto ao léxico, à sintaxe, à fonologia eprosódia, passando pela gestão da pressuposição, de implicaturas, dos actosilocutórios indirectos, das formas de tratamento, da articulação de atitudes eprocessos, dos princípios conversacionais…
As escolhas linguísticas são determinadas pelo tipo de relação social ourelação de poder entre os intervenientes
e são ainda condicionadas pelograu de instrução, idade, sexo, profissão e, eventualmente, outros factores.O estatuto do locutor estabelece condições sobre o que se diz e a maneira comose vai dizer.
- Vai ver se eu estou na esquina.
(registo informal)
- Por favor, gostaria que me informasse …
(registo formal)
Os níveis de língua
A
língua
apresenta-se como património comum, principal meio e instrumento deidentidade do ser humano, e unidade nacional.A expressão "registos linguísticos" designa os diversos estilos que um falantepode (ou deve) usar de acordo com a situação comunicativa em que participa.Para além disto, as intenções e os objectivos de cada indivíduo na situação decomunicação e o seu nível social e/ou cultural condicionam o nível de línguautilizado.Os
níveis de língua
são variedades de realizações da língua e dependem, assim,quer do nível cultural, do meio social ou da situação em que se encontra oemissor e do receptor a quem se dirige, quer dos estados de evolução da línguaatravés dos tempos. 
A norma
é o nível corrente, o Português padrão (presente nos dicionários e nasgramáticas).De acordo com as situações da comunicação, são várias as designações:
Língua cuidada (culta, erudita)
A língua que encontramos nos discursos parlamentares, nas conferências, nosensaios, nos artigos de critica literária, etc., é, geralmente, língua cuidada.O emissor recorre a termos menos correntes e estrutura a frase de modo aprocurar a perfeição (repete, muitas vezes, modelos de frases clássicos).Constitui um desvio à língua normal ou média, nos planos do vocabulário e daestrutura, pelo seu valor estético - poder sugestivo.Caracteriza-se por um vocabulário mais seleccionado, menos usual, mais rico epor construções sintácticas de influências clássicas.
Exemplos
: um ensaio, um comentário.
Língua literária
Fala-se também em
língua literária
, mas esta não é considerada um nível delíngua. Resulta de uma preocupação artística e não se orienta para acomunicação prática. Recorre muitas vezes aos diversos níveis de língua, emboraseja frequente fixar-se na língua cuidada. Além das características apontadas nalíngua cuidada, a língua literária assume desvios da norma mais habituais e maisarrojados: figuras de estilo e palavras deliberadamente procuradas para criar umambiente de sonho e de emoção; acentuada importância das funções emotiva epoética da linguagem; exploração não apenas do significado, mas também dosignificante, para tornar mais expressiva e atraente a mensagem.
Exemplos
: um conto, um romance…
Língua corrente (comum, normal, padrão)
Corresponde ao nível considerado padrão. É constituído por termos e estruturascorrentes, acessíveis à maioria dos membros duma comunidade linguística.
Exemplos
: os dicionários, as gramáticas.
Língua familiar
É uma língua simples, quer no vocabulário, quer na elaboração sintáctica, nãodistando muito da língua padrão. O tom coloquial da língua familiar dá-nos a



impressão de que o emissor é nosso conhecido, aproximando-se da linguagemoralizante. As crónicas jornalísticas, pelo seu tom de conversa despreocupada, eas cartas, pela sua simplicidade e tom coloquial, reflectem quase sempre estenível de língua.É usada no ambiente familiar ou de amigos, utilizando, muitas vezes, palavras eexpressões pitorescas, só compreendidas pelos respectivos grupos.
Exemplo
: uma carta para um amigo.
Língua popular
Ocorre sempre que haja um encontro particular, limitado a determinado gruposocial (estudantes, médicos, pintores,...). A língua popular

revela despreocupaçãonas construções sintácticas e correcção do vocabulário; é marcadamente oral eespontânea. Pode surgir como:
regionalismo
(falares característicos de certasregiões do País),
gíria
(expressões ou falares característicos de certos gruposprofissionais e sociais) ou
calão
(expressões ou formas marginais, que resultamde situações particulares chegando mesmo por vezes a ser grosseira)
Exemplo
: um diálogo entre estudantes, algarvios ou portuenses.
 As gírias e os regionalismos
É utilizada pelo povo, quer quando fala, quer quando escreve. Caracteriza-se estenível de língua pela simplicidade do vocabulário, em que são raríssimos os termoseruditos, e pelos desvios da norma, nos domínios quer fonético, quer morfológico,quer sintáctico.
Regionalismos ou provincianismos
São registos de língua próprios da população que habita as aldeias maisafastadas dos centros urbanos, distinguindo-se da língua da cidade pelo léxico,pronúncia, sintaxe e até pela semântica (certas palavras têm significadodiferente do das populações citadinas).
Gírias
São linguagem própria de certos grupos sociais, de certas profissões (pedreiros,peixeiras, pescadores, militares, estudantes, etc.) que usam um vocabuláriopróprio, geralmente com a finalidade de não serem compreendidos por indivíduosestranhos ao seu grupo. Dentro das gírias podem incluir-se o calão, um linguajarconsiderado grosseiro, próprio dos rapazes vadios, ciganos, salteadores,



contrabandistas, etc. (originária de extractos sociais marginalizados, deambientes miseráveis, onde a acção educativa dificilmente penetra).
Segundo alguns autores, devemos ainda considerar a existência de:
Língua técnica
(Não se confunda com gíria). Entende-se por esta linguagem aquela que éconstituída por um léxico próprio das comunidades ligadas a uma profissão.Compreende o conjunto de termos ligados a formas de actividade específicas edestinadas a designar os objectos de maneira exacta e precisa - nível dereferentes.
Exemplo
.: Um mecânico conhece todas as peças de um motor, o que não sucedea qualquer falante.
Língua científica
Embora relacionada com as terminologias técnicas, reúne os termos necessáriosà pesquisa e reflexão científicas - nível de conteúdos. Designada geralmente pormetalinguagem científica, afasta-se da língua comum sobretudo a nível lexical oude terminologia. Assim, as palavras estomatologia, isotopia, filogenia,pertencendo ao domínio, respectivamente, da Medicina, da Físico-química e daBiologia, fazem parte do campo lexical da metalinguagem científica.
Exemplos
: a descrição de um carro, um relatório médico.
Línguas mistas
Resultam da mistura de línguas de duas comunidades diferentes, permitindo acomunicação directa entre ambas. Usada com frequência quando certos povosimpuseram a sua língua que acabou por se misturar com as línguas nativas. 
Exemplo

: os crioulos.

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