A)Objetiva ? O texto objetivo é aquele que
enfoca o objeto real, sem as impressões do observador, tantando a maior
proximidade com o real. Alguns floreados típicos de escritor não têm campo
aqui.
B)Subjetivo ? tem uma visão do autor através de
juízes de valor.
Ex: Livro comprado em Lisboa à Objetivo
Livro interessante à Subjetivo
Mulher esbelta à Objetivo
Mulher belíssima à Subjetivo
Havia uma casa velha na encosta do morro. Era de
pau a pique, quase caindo, abandonada. Uma árvore cobria-a com sua sombra. à
Objetiva
Havia uma velha casa assustadora na encosta
íngreme do morro. Era de pau a pique quase caindo de tão podre, sozinha
abandonada. Uma árvore frondosa cobria-a com sua negra sombra à Subjetiva.
O TEMPORAL
Alfredo Desgragnolle Taunay
As quatro horas, tudo escureceu de momento, como
por imposição.
Entretanto não arrebentou logo o ciclone e, numa
espera que durou horas inteiras, sentia-se a natureza tomada de ansiedade
inquieta, ofegante, ante aquela ameaça, avassadora pelo perigo que aí vinha.
Intervaladas baforadas sopravam com o ruge-ruge seco de folhas mortas que, em
montões, são revolvivdas e arrebatadas num turbilhão.
Foi-se tornando a escuridão intensa; o calor,
atroz.
Os animais, cavalos e bestas, estavam parados,
apáticos, chegados aos homens, à busca de proteção. Formavam os bois, círculos
apertados com os chifres entrelaçados.
Afinal, uma risca de fogo correu de um extremo a
outro do horizonte.
Foi o sinal.
Houve um clarão medonho, uns segundos de pasmo.
Depois, a conflagração dos elementos.
Desencadeou-se furiosa ventania; abriram-se as
cataratas do céu no meio de relãmpagos de cegar, com estampidos nunca ouvidos.
Pavoroso era o conjunto.
Bem no meio do nosso acampamento caíam os raios,
atraídos pelas peças de artilharia; fulminavam soldados e, com os
contrachoques, derrubavam-se por terra, embora sentados e encolhidos debaixo do
capote varado pela chuva. Não houve toldo, abrigo, que aguentasse, quando
madeiros alentados eram torcidos pela mão possante do vendaval, sacudidos da
terra, arrancados e atirados ao longe, como leves projéteis.
Tudo voou pelos ares.
Instantes após, aqueles córregos, que antes eram
ressecados valos, intumesciam-se, rugiam furiosos e, não podendo dar vazão ás
águas, transbordavam inundando os campos e levando em deseordenada carreira
volumosas pedras e pujantes troncos.
Para aumentar o horror daquela noite
interminável, as nossas guardas avançadas, vendo ou cuidando ver, à luz dos
relãmpagos, que pareciam se despedaçavam uns de encontro aos outros,
desfazendo-se em faíscas, vendo que a fuzilaria dos homens preenchia os raros
intervalos em que se não ouvia o estrondear ensurdecedor dos céus.
Debaixo daquela descomunal tormenta, entravam em
forma os batalhões, ficando os soldados com água pela cintura.
E assim se esperou a madrugada.
E quando luzia o dia, toda aquela natureza
malferida, revolta, esmagada, aniquilada, estava como que atônita de presenciar
o final de semelhante convusão. Também daí a horas foram os empolados córregos
a pouco e pouco diminuindo de volume e em borbotões cada vez mais fracos,
depositavam, nas escarvadas margens, placas esbranquiçadas de densa espuma com
o rugido surdo de grandes cóleras que a custo se acalma e se extingue.
LEIA A DESCRIÇÃO A SEGUIR E DIGA SE É OBJETIVA
OU SUBJETIVA.
HABITAÇÃO
Graciliano Ramos
Aqui vai, com pormenores inúteis de realismo, a
descrição duma casa sertaneja, vista há algum tempo nos cafundós de Pernambuco.
Baixa, de taipa, cheia de esconderijos, lúgubre.
O teto, chato, acaçapado quase sem declive, é negro; é negro o chão sem
ladrilho, de terra batida, escurraçado e sujo. Negras as paredes sem reboco,
com o barro que se reveste a rachar-se deixando ver aqui e ali o frágil
madeiramento que serve de carcassa.
Três portas de frente e duas janelas. As portas
têm altura suficiente para que possa entrar uma pessoa de média estatura sem
curvar-se. As janelas, aberturas pequenas, quase quadradas, estão situadas lá
em cima, perto da telha. Para atingi-las, trepa-se a gente a um caixão. Têm
dobradiças de couro e trançam-se com pedaços de pau roliços envernizados pelo
uso, que se introduzem em buracos abertos nos batentes, presos a cordéis
amarrados em pregos. As portas fecham-se interiormente com ferramentas.
Em frente há um alpendre, o copiar, sustentado
por estojos baixos,
grossos, resistentes ao caruncho. Limita-o uma
plataforma que se ergue meio metro acima do solo de terra solta e pedra. É ali
que dormem hóspedes sem importância, na desagradável companhia dos bodes e das
cabras que lá vão fazer idílios.
Na sala principal há três redes armadas em paus
recursos que saem do esqueleto das paredes. A um canto, um enorme traste de
pernas descomunais, que atravessam uma tábua de dez centímetros de espessura,
magnífico para rasgar a roupa de quem nele se senta. Aqui e ali, em tornos de
madeiras, penduram-se chapéus de couro, gibões, perneiras e peitorais. Alguns
sacos e surrões de milho e feijão substituem as cadeiras. Enormes cordas de
laço, com grossas esporas de rosetas incríveis, espalham-se desordenadamente.
Da sala principal segue para os fundos um
corredor estreito e sombrio, preto de pucumã e teias de aranha. Dão para ele
dois quartos fronteiros. Um, das meninas, nunca se abre. O outro, dos donos da
casa, deixa ver através da porta meio aberta, algumas arcas, onde se aferrolha
o teouro da família e uma cama baixa, sem colchão com o latro de couro de boi
em cabelo, gasto pelo atrito de algumas gerações que ali se fizeram, viveram e
morreram.
O corredor desemboca na sala de jantar. Há ali uma
pequena mesa, que raramente se forra, toda escalavrada, cheia de altos e
baixos, pelo hábito de picar-se fumo em cima dela, à faca de ponta. Ladeiam-na
dois bancos. Perto, uma velha máquina de costuma em cima dum caixão vazio. Uma
ponte sobre uma forquilha plantada no chão.
A cozinha é pequena. Uma grossa camada de
fuligem dá-la um novo teto. Um jirau substitui a despensa. Amontoam-se nela
mochilas de sal, réstias de cebola, espigas de milho, botijões de manteiga.
Mantas de carne, linguiças, panos de toucinho penduram-se a uma corda que vai
duma parede a outra. O fogo é feito no chão, entre pedras dispostas em trempe.
A um canto, um monte de cinza e carvões apagados. Todos os dias uma preta de
cócoras, varre aquilo, a vassorinha. Figrideiras, caldeirões, panelas, marmitas
de folha, ralos, canecos, abanos, formam o sistema planetário dum tacho velho,
rachado, coberto de nódoas verdes. Em cima dum pilão deitado um gato ronca.
Junto ao lume há quase semre uma velhota acendendo o cachimbo de canudo de
taquari com uma braça espetada a um garfo. Encosta à trempe, uma banda de casca
de coco, presa num pau a quenga. Na parede o caritó pequena cava em forma de
concha, onde se guardam objetos miúdos ? pedras de sal, pontas de cigarros de
palha, dentes de alho, cordõe, retalhos de pano, agulhas, peles de fumo que se
ofercem a santa Clara, a troco de pequeninos milagres caseiros.
Junto ao quintal, o jardim, povoado de
algodoeiros, verduras, vasos de alecriam e losna, urtigas e flores, tudo
protegido pela ramagem duma baraúna velha.
Do lado oposto, três currais de certas eternas,
mourões gigantescos.
Um pouco afastado, o chiqueiro das cabras.
Em frente, um grande pátio branco, limitado por
árvores sempre verdes que escondem montes distantes.
No terreiro, no pátio, na calçada,
confraternizam galinhas, bacorinhos, carneiros, cabritos, alguns cachorros com
extravagantes coleriras feitas de rodelas de sabugo queimado, enfiados em
padaços de embira.
Uma habitação horrível, como veem. Contudo viveu
ali, sem se queixar uma família decente, religiosa e pastoril, domesticada no
reimge patricarcal. Desapareceu tudo. Provavelmente aquilo está hoje reduzido a
tapera.
2. Leia as duas narrações a seguir e destaque as
diversas partes delas que você encontrar: Tempo, Personagens, lugar, ápice,
conflito, Enredo, (ação)
DEVAGAR PARA NÃO MATAR
Gervásio Lobato
Os interlocutores são o filho de um fazendeiro
que estava a gozar férias no Rio de Janeiro e um colono de sua fazenda.
O moço, que já há muito tempo não recebia carta
de casa nem notícia de seus pais, encontrou, uma manhã, numa praça da cidade, o
colono, embastacado a olhar um arranha-céu.
- Olá! Você por aqui, Tibúrcio!
- Ah! O meu patrão!
- Então, você vem ao Rio e não me procura, não
vem logo à minha casa?
- Ora essa! Então não havia de ir!
- Pois é, mas você ainda não foi...
- Ia lá agora mesmo...
- Você acaba de chegar?
- Não, senhor. Cheguei anteontem e, desde que
cheguei, estou para ir lá agora mesmo...
- Então. Como está tudo por lá?
- Tudo bem, sem novidade.
- E o meu cavalo predileto, o Janota?
- Ah! É verdade, esquecia-me de dizer-lhe...
Esse é que não tem lá passado muito bem.
- Sim? E o que tem ele? Está doente?
- Não, senhor.
- Ah!... Você me deu um susto! Cavalo que me
custou cinqüenta mil cruzeiros!...
- Não, senhor, não está doente! Morreu!
- Morreu?...
- Sim, senhor. Mas o mais vai sem novidade.
- Morreu? Mas se ele não estava doente... Morreu
de algum desastre?
- Não, senhor. Qual desastre?
- Então?...
- Morreu do fogo que houve lá na cocheira.
- O quê? Houve fogo na cocheira?
- Sim, senhor. Queimou-se toda e o pobre Janota
que estava dentro, foi-se também, coitado!
- Mas, como pegou fogo na cocheira?
- Pegou da casa.
- Da casa?
- Sim, senhor. Por mais que fizéssemos, não foi
possível impedir que o fogo passasse à cachoeira. Mas o mais vai sem novidade.
- Mas como foi que pegou fogo na casa?
- Foi uma vela que caiu do castiçal.
- Uma vela?
- Sim, senhor. Uma vela caiu em cima do pano do
caixão e fui tudo pelos ares.
- Do caixão? Mas qual caixão?
- O caixão onde estava a defunta!...
- Que defunta?
- A senhora sua mãe.
- Minha mãe? Pois minha mãe morreu?!...
- Morreu sim. Mas o mais vai sem novidade.
- Mas do que morreu minha mãe?
- De desgosto, coitadinha?
- Desgosto de quê?
- Pela morte do seu pai.
- Mas vem cá. Então meu pai morreu também?
- Não, senhor. Não morreu... Matou-se.
- Matou-se?
- Sim, senhor. Enforcou-se. Mas o mais vai se
novidade.
- Enforcou-se?!...
- Sim, senhor. Fizeram-lhe a penhora de todas as
suas fazendas e ele viu que estava arruinado, que ia pedir esmola... foi a uma
corda... e... zás. Mas o mais vai sem novidade, graças a Deus!
O PACTO COM A MORTE
João Ribeiro
Um sujeito medroso não queria morrer e
custava-lhe conformar-se com a fatalidade terrível. Aconselharam-no a que
fizesse compadre da Morte, pois a um compadre não se negam certos favores.
O sujeito assim fez: chamou a Morte para
madrinha de um dos seus filhos. E logo pediu à comadre que lhe evitasse o
doloroso tributo.
- Não posso poupá-lo a esse transe,
compadre(disse ela). Eu venho a mandado de Deus e, quando chegar a sua hora,
você não se poderá livrar. Faço-lhe porém, um concessão, que é o único favor
que lhe posso prestar. Eu virei prevení-lo uma semana antes. Você tomará então
as devidas providências. Mais não posso fazer.
E despediu-se.
O sujeito medroso resignou-se, mas levou a
parafusear todos os alvitres possíveis, visando a burlar a Morte, naquela
semana de dilação que lhe seria dada.
Passados alguns anos, apareceu um dia a Morte.
- Agora, compadre, virei buscá-lo na
quarta-feira próxima. É fatal.
O compadre recebeu a notícia tranqüilamente,
pois tinha-se já apercebido, arquitetado o seu estratagema.
No dia fatal, fez vestir com as suas roupas um
preto que lhe servia de cozinheiro, pôs-lhe à cabeça o seu chapéu e mandou-o
ficar à porta da casa. Evidentemente a Morte tomá-lo-ia pelo patrão.
Ao mesmo tempo, ele, pela sua parte,
encarvoou-se todo o rosto, vestiu os farrapos do preto e foi-se colocar ao
fogão.
Mas, ou fosse casual desencontro, ou fosse que o
preto se esgueirasse para a venda da esquina, o certo é que a Morte entrou sem
ser pressentida.
A dona da casa, aflita, murmurou apenas:
- O seu compadre deve estar aí perto, à porta da
casa.
- Não e preciso incomodá-lo, disse a Morte.
Farei favor mais completo. Desta vez eu levo apenas aquele preto velho, que ali
está ao fogão.
E levou-o.
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