quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Aspectos antropológicos na filosofia de René Descartes a partir dos livros IV e V do Discurso do Método e VI das Meditações

Resumo:
O presente artigo tem como objetivo apresentar aspectos antropológicos da filosofia de RenéDescartes, a partir dos capítulo IV e V da obra
 Discurso do Método
e também da VI meditação da obra
 Meditações.
Capítulos estes que englobam a centralidade do pensamento acerca do
cogito
e da
res cogitans
,caracterizados como a essência do homem, isto é, o homem é, para Descartes, essencialmente alma, substancia pensante. Em contrapartida, tal filósofo compreende
res extensa ou
substância extensa numa visão maismecanicista, sendo a alma autônoma em relação ao corpo físico, mas formando com ele, uma unidadesubstancial, porém, existindo um pequena parte do cérebro, a glândula pineal, responsável pelas comunicaçãodestas duas substâncias, acima mencionadas.
Palavras-chave:
Descartes. Antropologia.
 Res cogitans.
Alma. Mecanicismo.
Breve contextualização da cosmovisão da idade moderna
Historicamente a Idade Moderna se inicia no início do século XVI, auge do Humanismorenascentista, e se estende até os fins do século XVIII e, que durante estes 300 anos muitosacontecimentos no campo político, econômico, social, científico e religioso marcaramconsideravelmente esta transição da Idade Média para o mundo Moderno. Para muitos umaruptura drástica, para outros muitos elementos de continuidade podem ser identificados.Dentre deste contexto, a Filosofia também adquire novas concepções de mundo, a partir defilósofos que eram muito ligados as ciências naturais, tais como a matemática e a física. Comefeito, uma visão matematizante (racionalismo matemático) da realidade era comum neste período, em contrapondo a uma visão mais transcendental, bem como uma elevação do
homem, e consequente “declínio” da metafísica.
Por conseguinte, tem-se uma concepçãocientífica mecanicista, isto é, o mundo e o homem são vistos como grandes máquinas, onde aexplicação laboral e sistemática assume a explicação das realidades universais.Esta visão mecanicista do mundo propicia ao homem um
status
de menor dependência asrealidades transcendentes (especialmente do Deus cristão), tornando-se assim, sujeito de si, eocupando um lugar de destaque no cosmos (cosmovisão moderna), isto é, na modernidade há
1
Graduado em Matemática pelo Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora_CES-JF e graduando em Filosofia pela Faculdade Arquidiocesana de Mariana Dom Luciano Pedro Mendes de Almeida_FAM
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2uma concepção antropocêntrica (contrapondo a visão teocêntrica advinda do mundomedieval). Nisso o homem percebe-se mais valorizado em sua condição humana e suacapacidade de interferência no mundo. Com efeito, surge uma mentalidade humanista (nãosomente na visão acadêmica/intelectual) que tende a se opor ao tradicionalismo, seja nacultura, na religião, na literatura, ou em outros campos, e a uma valorização de mais uma vidaativa ante uma vida contemplativa.O humanismo, então, é um dos grandes pilares do modernismo, desencadeando oRenascimento cultural da época. Termo este, que sugere uma ruptura com o medievo, masque ao mesmo tempo conserva alguns elementos desse período, denotando certa continuidade,como já mencionado. Os chamados humanistas queriam também, além de uma revoluçãoartística e cultural, uma renovação do cristianismo, recorrendo a princípios de liberdadeindividual e exaltação da razão advindos do pensamento da cultura greco-romana. Haja visto,que foi nesta cultura antiga, que o homem ganha um certo destaque e, agora, no mundomoderno estes princípios de individualidade é resgatado.Em suma, podemos destacar os seguintes aspectos que caracterizam a cosmovisão do mundomoderno:

Racionalismo (nas ciências, contrapondo-se aos dados da fé, revelados);

Revolução Científica: apelo ao demonstrável cientificamente;

Antropocentrismo;

Mecanicismo;

Humanismo (cultura humanista antropocêntrica);

Renascimento (oposição ao tradicionalismo);

Individualismo (associado à liberdade).

Subjetivismo/solipsismoÉ neste contexto especifico que René Descartes (1596
 – 
1650) inaugura sua filosofiametódica, instaurando a dúvida metódica como fundamento da certeza, isto é, para se atingir ideias claras e distintas (evidentes) deve-se primeiramente suspender o juízo, perpassando posteriormente pelo crivo do método
2
. É daí, que Descartes chega ao primeiro principio de
2
Verificar/evidenciar, analisar, sintetizar e enumerar.
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3sua filosofia,ou seja, a evidencia de sua existência, enquanto ser pensante. A máxima
Cogito,ergo sum!
surge, então, da certeza indubitável de se perceber como um ser dotado de uma
rescogitans
que lhe propicia a constatação de sua própria existência. A concepção cartesiana temseus pontos fundamentais na subjetividade e autoconsciência da substancia pensante (
rescogitans)
e a visão mecanicista do homem (
res extensa)
e do mundo.
1. A descoberta do
cogito 

Descartes, a principio, acreditara que os sentidos podiam suscitar ideias confiáveis.Posteriormente, rejeitando tudo aquilo que poderia conter um mínimo de dúvida, resolvesuspender o juízo sobre as coisas que antes acreditara como verdadeiras, fazendo com queestas passassem pelo crivo de método, uma vez que achara
erros nos juízos fundados nos
sentidos exteriores [...] [e] nos interiores”
(
 Meditações
§13,14)
,
constatando que por vezes ossentidos nos enganam, assim como em alguns sonhos (
 Discurso do Método,
1979
 ,
p. 46).Porém, de uma coisa Descartes acreditava que não podia duvidar, ou seja, o fato de ser um ser que pensa sobre a dúvida, e que, portanto, se é um ser que duvida, logo pensa. O pensamento,neste caso, conduz a certeza da existência, como constata o próprio Descartes:
enquanto eu queria assim pensar que tudo era falso, cumpria necessariamente queeu, que pensava, fosse alguma coisa. E, notando que esta verdade:
eu penso, logoexisto
, era tão firme e tão certa que todas as mais extravagantes suposições doscéticos não seriam capazes de a abalar, julguei que podia aceitá-la, sem escrúpulo,como o primeiro princípio da Filosofia que procurava [existo como coisa pensante]. (idem, p. 46, grifo nosso)
O
cogito
nasce desta impossibilidade da não existência de si, isto é, nasce da evidência eautoconsciência de si em relação ao outro. Esta é a primeira certeza auto-evidente queDescartes assume como isenta de dúvida, mas concebe posteriormente outros tipos de ideiascomo nos afirma Reale e Antiseri:
Descartes divide as idéias em
idéias inatas
, isto é, as queencontramos em nós mesmos, nascidas junto com a nossa consciência;
idéias adventícias
, istoé, que vêm de fora e nos remetem as coisas inteiramente diferentes de nós;
idéias factícias
ouconstruídas por nós mesmos

. (2005, p. 369). Mas, não cabe aqui adentrar nesta problemática,visto que excede o assunto em pauta.

por: Júnior César de Sousa

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