segunda-feira, 19 de março de 2018

Tipos de discursos/ Discurso Poético


Tipos de Discursos

Discurso é a prática humana de construir textos, sejam eles escritos ou orais. Sendo assim, todo discurso é uma prática social. A análise de um discurso deve, portanto, considerar o contexto em que se encontra, assim como as personagens e as condições de produção do texto.
Em um texto narrativo, o autor pode optar por três tipos de discurso: o discurso direto, o discurso indireto e o discurso indireto livre. Não necessariamente estes três discursos estão separados, eles podem aparecer juntos em um texto. Dependerá de quem o produziu.
Vejamos cada um deles:
Discurso Direto: Neste tipo de discurso as personagens ganham voz. É o que ocorre normalmente em diálogos. Isso permite que traços da fala e da personalidade das personagens sejam destacados e expostos no texto. O discurso direto reproduz fielmente as falas das personagens. Verbos como dizer, falar, perguntar, entre outros, servem para que as falas das personagens sejam introduzidas e elas ganhem vida, como em uma peça teatral.
Travessões, dois pontos, aspas e exclamações são muito comuns durante a reprodução das falas.
Ex.
“O Guaxinim está inquieto, mexe dum lado pra outro. Eis que suspira lá na língua dele - Chente! que vida dura esta de guaxinim do banhado!...”
“- Mano Poeta, se enganche na minha garupa!”
Discurso Indireto: O narrador conta a história e reproduz fala, e reações das personagens. É escrito normalmente em terceira pessoa. Nesse caso, o narrador se utiliza de palavras suas para reproduzir aquilo que foi dito pela personagem.
Ex.
“Elisiário confessou que estava com sono.” (Machado de Assis)
“Fora preso pela manhã, logo ao erguer-se da cama, e, pelo cálculo aproximado do tempo, pois estava sem relógio e mesmo se o tivesse não poderia consultá-la à fraca luz da masmorra, imaginava podiam ser onze horas.” (Lima Barreto)
Discurso Indireto Livre: O texto é escrito em terceira pessoa e o narrador conta a história, mas as personagens têm voz própria, de acordo com a necessidade do autor de fazê-lo. Sendo assim é uma mistura dos outros dois tipos de discurso e as duas vozes se fundem.
Ex.
“Que vontade de voar lhe veio agora! Correu outra vez com a respiração presa. Já nem podia mais. Estava desanimado. Que pena! Houve um momento em que esteve quase... quase!”
“Retirou as asas e estraçalhou-a. Só tinham beleza. Entretanto, qualquer urubu... que raiva...” (Ana Maria Machado)
“D. Aurora sacudiu a cabeça e afastou o juízo temerário. Para que estar catando defeitos no próximo? Eram todos irmãos. Irmãos.” (Graciliano Ramos)
FONTE:
Celso Cunha in Gramática da Língua Portuguesa, 2ª edição
Elementos-chave do discurso poético
http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/logger/p.gif?a=1.748383&d=/2.187/2.188/2.759/2.804
Ler a poesia de Liz Cavalcante é sentir uma intensa emoção sobre aquilo que talvez seja a razão de tudo: viver, amar e sentir saudades. É impressionante como uma pessoa da idade da Liz consegue passar, com tanta força interior, algo que só sabemos que existe porque sentimos - e que é, assim, muito difícil externar

É para isso, também, que existe o poeta: para mostrar, através da metáfora, o que está do outro lado das coisas; para iluminar o que é, para muitos, obscuro; e para mostrar, a outros, o que é impossível enxergar.

O caminho

Posfaciando outro livro de poemas (Caminhada, de Maria Nogueira Machado Arcanjo), desta feita para a comemoração dos 64 anos de luta com a palavra, tive a oportunidade de dizer que um poema é feito com sensibilidade e linguagem. Sensibilidade, para fazer o cirúrgico recorte do real e dele desvendar o que há de mais essencial: esta é a visão de todo grande poeta. E linguagem, porque somente com o trabalho diário com o discurso é que se consegue o efeito poético necessário a todo bom poema.

A recorrência

A essas mesmas reflexões faz-me chegar seu mais recente livro "Uma nova maneira de encarar a vida", ainda mais porque vejo nele a consolidação de seu lirismo, a concentrar-se, como antes em "De Liz para Liz", nos recônditos do eu, por meio de um discurso que visa a um mergulho no obscuro e pastoso universo da subjetividade, como, por exemplo, no poema "Crueldade", no qual o eu é, a rigor, metonímia da condição humana: (Texto I)

O desafio imagético

Agora, relendo poemas do livro "De Liz para Liz", encantei-me, mais ainda, com suas descobertas, e posso repetir e corroborar a palavra do nosso Mestre Imortal Genuino Sales, na orelha do livro. Diz ele: "Confesso que não foi apenas a idade da autora o que mais me comoveu. Comoveu-me, sobretudo, sua produção poética." E foi exatamente a representação poética dos textos da Liz que me despertou a sensibilidade do crítico, levando-me a palmilhar, concentrado, a terra fértil de sua expressão poética, os feixes de seu discurso.

Na composição "Poema e história", em que a reflexão sobre o próprio texto poético e o poder do imaginário é uma das temáticas mais trabalhadas pelos poetas canônicos, uma vez que estes são atraídos pelos mistérios da criação, pelas possibilidades múltiplas da construção textual, ela afirma: (Texto II)

Numa outra expressão de seu discurso poético, "Contraste", em que a memória involuntária é evocada a partir da neblina do mar, uma imagem visual das mais complexas de interpretar, em se tratando de hermenêutica literária, deparamos: (Texto III)

Já em "Loucura", em que a voz sensível do poeta e, sobretudo, a do ser humano brada por justiça social, a voz poemática se desloca do eu e parte ao encontro do outro: (Texto IV)

Imagens em si mesmas

O percurso da leitura encontra, ainda, simplesmente em versos soltos, verdadeiros achados poéticos, como em "Poesia, para mim, em que ser dureza" - aqui ela revela a sua luta constante e árdua com a palavra, além de dizê-la com certo humor, bem nos paradigmas do primeiro momento modernista brasileiro.

Há, porém, ainda nesse aspecto, um instante ímpar, presente no seguinte verso: "Amar é algo que se contorce". Em meu modo de ver, este é o verso mais bonito e significativo deste livro: Liz, aqui nos dá uma verdadeira lição de criação poética e linguística, nos moldes dos melhores poetas líricos de todos os tempos, em que o "contorcer-se" tanto evoca sentimentos como imagens plásticas, visualmente reconhecíveis pelos olhos e, essencialmente, pelo coração. E também exercendo o seu mais lídimo direito de sofrer, diz ela: "Sou qualquer coisa que dói e se parte como gelo, e se derrete".

Versos e dores

É por isso que ela sofre muito: isto também faz parte da natureza do poeta - sofrer intensamente, e convencer seus leitores de que eles também sofrem igualmente aquela dor. Fernando Pessoa, quem melhor disse isso, ficou imortalizado com sua famosa teoria do fingimento poético.

No caso de Liz, não se trata de teoria: talvez haja (e só quem pode dizer isso é ela) uma profunda correspondência entre a ficção e a realidade. Independente, porém, da confirmação ou contestação dessa verdade, o fato é que a poesia dela é muito viva por conta desses fatores. O seu sentir o mundo é muito verdadeiro, autêntico e profundo. Tal ocorre com muitos poetas que, de certa forma, lançam, na carne do poético, projeções de seus estados anímicos, ainda que tudo isso de imprima de modo inconsciente; em outros, tudo isso assume um tom confessional, é algo que lhes é familiar.

A impressão que se tem quando se lê os textos de Liz é que ela viveu, realisticamente, cada expressão que escreveu; cada vírgula que separa o texto da sua própria vida. Para quem vai ler, pela primeira vez, os seus textos (dela, Liz), é bom saber, antes de mais nada, que sofrimento, aqui, não é uma fator negativo; pelo contrário, é um ponto de vista, que focaliza o que há de mais autêntico no ser humano: a busca da essência das coisas - é, portanto, uma postura filosófica.

Sensações anímicas

A intensidade das emoções (aqui está a força maior da sua poesia, que muitas vezes aparece em forma de hipérboles e metáforas) lembra escritores que são referências: Fernando Pessoa, Florbela Espanca, Gonçalves Dias, Drummond, et alii. Nesse livro Liz está ainda mais profunda; ainda foi mais fundo no poço abissal dos questionamentos do ser humano. Os poemas deste livro são mais longos, o que não só indica que ela tem aprofundado determinados conceitos, mas que, por conta disso, creio, tem sofrido mais, também. Liz mudou a estrutura dos seus textos, mas permaneceu fiel à retórica maior da sua poesia: experimentar intensamente tudo o que por ela passa, para poder, talvez, viver melhor neste mundo meio ininteligível e desarrazoado.

PAULO DE TARSO PARDAL
COLABORADOR*
* Poeta e ensaísta

A tessitura da poesia e a sua leitura

A poesia, enquanto construção de um discurso, (pouco importa os rumos por que se oriente, se obscuros ou mais nítidos caminhos) visa, sobretudo, a um encontro com o ser. E, nesse sentido, volta-se, essencialmente, para a construção de uma ponte que abre a passagem para o encontro de dois territórios: um se encontro no país daquele que escreve; outro, no daquele que o lê.

Nisso, antes de tudo, reside o que se pode classificar com espaço poético; ou seja, a expressão de uma subjetividade. O que é um poeta a não ser uma legião de outros que carrega em si com o grande peso do incorpóreo, do inefável, do que quanto mais se dissolve mais se consolida, e é indelével, inexorável e, ao mesmo tempo, iniludível? Não andava o poeta Antônio Girão Barroso com os bolsos carregados de poemas, assim como as árvores também curvam ao peso das frutas? Quantas vezes, poetas não desceram aos infernos para a colheita de um só verso?

Como se percebe, um livro é tão-somente depositário de uma voz, por que o poeta, na angústia do suor cotidiano ou no êxtase do silêncio, sente-se dominado. Ao expressá-la, com o carvão da letra, alimenta a espera de vê-la (a voz, agora, em carne) posta sobre outras vozes: a dos leitores.

A composição poética é, portanto, uma realização de que faz uso o criador, e o que realiza é uma natural consequência de determinadas emoções: "O leitor que encontra esse objeto reconhece seu valor com objeto estético observando o impacto que tem sobre suas próprias emoções quando o estuda de perto". (OLSEN. 1979. p. 51) Importa, e muito, que esses leitores não se resumam ao próprio poeta, no anonimato de sua simplicidade, como aquele sapo-cururu, posto por Manuel Bandeira à beira dum rio. ( BANDEIRA. 1997. p 159 )

Os poemas nascem para que possam circular, para que, num átimo, sejam descobertos por quem se encontra inebriado pela tristeza ou pela alegria, pelo que, ao mesmo tempo, é sofreguidão e abandono. O poeta, às vezes, nem sabe muito bem como escreveu determinado poema. Por que uma imagem e não outra? Mas qualquer leitor, diante de uma imagem, sempre poderá nela deparar um espelho do que desconhecia e, súbito, a ele foi revelado.

Trechos

TEXTO I
Somos cruéis porque temos mágoas
Somos cruéis porque nos
[desconhecemos
Somos cruéis porque isso nos move,
[nos faz sentir vivos
Mas o que seria da vida sem
[inimigos?
Escolhas malfeitas, sonhos
[repartidos,
E continuamos solitários no
[nosso ódio
É uma verdade particular
Onde alguns até compreendem.
Onde abrigar nossos sonhos
[destas noites frias?
[...]Quanta fome de si mesmo
Quanta necessidade de amar!
Do que tem medo, receio?
O céu ainda surge,
A vida continua,
Mas até quando?
O futuro me deixa assustada.
O que será de nós afinal?
E se o mundo se cansar
[de tanta negligência?
Estamos esgotados
Já não sabemos por que lutar.

TEXTO II
Todo poema e história não têm fim
Porque sim
E se você tá duvidando
Vou lhe explicar melhor:
Ele continua em minha imaginação

TEXTO III
Você é a minha memória
No maior esquecimento,
Você é a fome
Que me veio fortalecer a sede,
Você é o mar em neblina.

TEXTO IV
Vocês me deixam louco
Deveriam mudar o Brasil para melhor
Assim é pior
Porque vocês me deixam louco!
Vocês deveriam se preocupar
[com o outro
Vocês me deixam louco
Que droga de País é esse?!
O Brasil,
O Brasil.

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